Vida nova
Primeiro dia da Luísa em casa. Como ela chegou uma semana antes, o quartinho dela ainda está um caos. Sorte que as avós e a tia Nem aterrisaram aqui pra ajudar.
P.S. Estou babão, sim. Semana que vem retomo o mau-humor e veneno, mas agora só quero saber de lamber a cria.
Espaço onde o jornalista Leonardo Pimentel pode se dedicar a falar mal do que bem entender.
Aviso
Apesar de criado por um jornalista, este blog não é nem pretende ser imparcial. Ele reflete minhas opiniões, meus gostos, desgostos, preconceitos e pós-conceitos. Se alguém se sentir ofendido, "paciência"...
Se quiser, mande-me um e-mail
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sábado, 31 de janeiro de 2004
sexta-feira, 30 de janeiro de 2004
quinta-feira, 29 de janeiro de 2004
quarta-feira, 28 de janeiro de 2004
Diálogos X-Crotos XX (roubado)
"Alô, é da casa de Débora?"
"Não, minha senhora, não é."
"Débora não está?"
"Não, senhora, aqui não tem nenhuma Débora."
"A que horas ela volta?"
"Meu bem, aqui NÃO TEM NENHUMA DÉBORA!"
"Então tá, eu ligo depois."
Essa aconteceu com a minha querida Selina, que relatou em seu blog, Gothan City É Aqui...
"Alô, é da casa de Débora?"
"Não, minha senhora, não é."
"Débora não está?"
"Não, senhora, aqui não tem nenhuma Débora."
"A que horas ela volta?"
"Meu bem, aqui NÃO TEM NENHUMA DÉBORA!"
"Então tá, eu ligo depois."
Essa aconteceu com a minha querida Selina, que relatou em seu blog, Gothan City É Aqui...
Provocação camuflada
Dizem os noticiários que o ministro da Saúde, Humberto Costa, vetou a frase que seria usada na campanha contra a Aids. Pela proposta inicial, os cartazes mostrariam um peixinho nadando dentro de uma camisinha, com os dizeres “Por aqui não passa nada. Bote fé, use camisinha”. Costa considerou que a frase era uma provocação à Igreja Católica, que condena qualquer forma de contracepção e espalha que a camisinha não é eficaz no combate às DST.
O que Costa aparentemente não notou é que existe uma provocação mais sutil: o peixe dentro da camisinha. Esse (o peixe, não a camisinha, claro) foi um dos primeiros símbolos dos cristãos (antes deles adotarem a não menos macabra metáfora do pastores e ovelhas) e ainda hoje é usado por eles. Acho muito difícil ser coincidência.
Dizem os noticiários que o ministro da Saúde, Humberto Costa, vetou a frase que seria usada na campanha contra a Aids. Pela proposta inicial, os cartazes mostrariam um peixinho nadando dentro de uma camisinha, com os dizeres “Por aqui não passa nada. Bote fé, use camisinha”. Costa considerou que a frase era uma provocação à Igreja Católica, que condena qualquer forma de contracepção e espalha que a camisinha não é eficaz no combate às DST.
O que Costa aparentemente não notou é que existe uma provocação mais sutil: o peixe dentro da camisinha. Esse (o peixe, não a camisinha, claro) foi um dos primeiros símbolos dos cristãos (antes deles adotarem a não menos macabra metáfora do pastores e ovelhas) e ainda hoje é usado por eles. Acho muito difícil ser coincidência.
segunda-feira, 26 de janeiro de 2004
Too gay to rock’n’roll...
Nada mais me surpreende. Acabo de ler que David Palmer, ex-tecladista do Jethro Tull, fez, aos 66 anos, uma cirurgia para mudar de sexo e agora se chama Dee. Apesar de ter tocado em apenas seis discos com a banda, entre 1976 e 1980, David – ou melhor, Dee – participou como arranjador desde o disco de estréia, em 1968, “This Was”. Ian Anderson se disse meio confuso, mas deu apoio ao amigo/a.
Com todo respeito à turma das teclas, mas deve ser mal do instrumento. Em 1972, Walter Carlos, autor da trilha de “Laranja Mecânica”, passou a faca nos documentos e tornou-se Wendy. Ainda Walter, Carlos foi praticamente o sujeito que fez o parto do sintetizador Moog, que logo seria adotado por Keith Emerson. Já Wendy, continuou uma carreira de sucesso, assinando, entre outras, as trilhas de “O Iluminado” e “Tron”.
Agora, isso pode ser comum nos teclados; no contrabaixo não rolam essa frescuras, não...
Nada mais me surpreende. Acabo de ler que David Palmer, ex-tecladista do Jethro Tull, fez, aos 66 anos, uma cirurgia para mudar de sexo e agora se chama Dee. Apesar de ter tocado em apenas seis discos com a banda, entre 1976 e 1980, David – ou melhor, Dee – participou como arranjador desde o disco de estréia, em 1968, “This Was”. Ian Anderson se disse meio confuso, mas deu apoio ao amigo/a.
Com todo respeito à turma das teclas, mas deve ser mal do instrumento. Em 1972, Walter Carlos, autor da trilha de “Laranja Mecânica”, passou a faca nos documentos e tornou-se Wendy. Ainda Walter, Carlos foi praticamente o sujeito que fez o parto do sintetizador Moog, que logo seria adotado por Keith Emerson. Já Wendy, continuou uma carreira de sucesso, assinando, entre outras, as trilhas de “O Iluminado” e “Tron”.
Agora, isso pode ser comum nos teclados; no contrabaixo não rolam essa frescuras, não...
quinta-feira, 15 de janeiro de 2004
É melhor pensar antes
Há tempos li um conto em que Deuses muito antigos esquecidos começavam a conceder desejos. Uma das situações bizarras é que milhares de pessoas acertam ao mesmo tempo na loteria, cada uma ganhando menos de dez dólares. A história falava no suicídio de ganhadores que, antes de saberem o valor do prêmio começaram a fazer coisas como tacar fogo na casa velha ou passar a mão na bunda do patrão.
Lembrei disso hoje ao ver o resultado do concurso 529 da Mega-Sena, que estava acumulado em mais de R$ 5 milhões. Não foram milhares, mas 15 acertadores – ainda assim, acho que foi o maior número já registrado nessa loteria, não contando bolões. Fico imaginando o sujeito que ouviu ontem no rádio os números, acertou, passou a noite sonhando em passar o resto da vida no dolce far niente com a renda dos cinco milhões e hoje, ao ir na Caixa Econômica, descobriu que ia levar R$ 348.732,75. É uma grana respeitável, mas não dá pra viver na flauta.
Uma curiosidade: todos os ganhadores eram de estados do Nordeste. Cinco de Pernambuco, três da Paraíba, dois do Piauí, do Rio Grande do Norte e do Ceará e um da Bahia.
Há tempos li um conto em que Deuses muito antigos esquecidos começavam a conceder desejos. Uma das situações bizarras é que milhares de pessoas acertam ao mesmo tempo na loteria, cada uma ganhando menos de dez dólares. A história falava no suicídio de ganhadores que, antes de saberem o valor do prêmio começaram a fazer coisas como tacar fogo na casa velha ou passar a mão na bunda do patrão.
Lembrei disso hoje ao ver o resultado do concurso 529 da Mega-Sena, que estava acumulado em mais de R$ 5 milhões. Não foram milhares, mas 15 acertadores – ainda assim, acho que foi o maior número já registrado nessa loteria, não contando bolões. Fico imaginando o sujeito que ouviu ontem no rádio os números, acertou, passou a noite sonhando em passar o resto da vida no dolce far niente com a renda dos cinco milhões e hoje, ao ir na Caixa Econômica, descobriu que ia levar R$ 348.732,75. É uma grana respeitável, mas não dá pra viver na flauta.
Uma curiosidade: todos os ganhadores eram de estados do Nordeste. Cinco de Pernambuco, três da Paraíba, dois do Piauí, do Rio Grande do Norte e do Ceará e um da Bahia.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2004
Cultura Zero
Galera, gostaria de dividir com vocês este texto que recebi por e-mail da minha querida Márcia Frazão – talentosa tanto nas letras quanto na vassoura e no caldeirão. Se alguém for passar adiante, não esqueça de dar o crédito a ela.
Cultura Zero
Ao me olhar no espelho, enquanto escovava os dentes e matutava como cobrir o furo da conta no banco, me dei conta de que faço parte de uma classe tão desvalida quanto a dos desvalidos. Num jorro de água a ficha caiu: o beco da cultura não fica a dever nada ao beco da miséria!
Enquanto caçava cáries no fundo da boca, morrendo de medo de me deparar com uma e ficar banguela por não ter grana para ir ao dentista (no beco da cultura, plano de saúde é apenas mais uma discussão teórica), espichei a memória e contei os mortos e feridos dessa classe que tem a estranha mania de sublimar a tristeza e transmutá-la em beleza. Lembrei-me das dores e dos padecimentos financeiros de Freud e um frio me percorreu a espinha: o pai da psicanálise era um masoquista! Se não fosse, não queimaria as pestanas em pesquisas que mal da vam para pagar o aluguel da casa.
Depois de ter constatado que um dos maiores baluartes da cultura praticamente viveu a vida toda "de favor", o frio da espinha tornou-se gelo quando olhei para os lados e percebi que os tempos eram outros: já não existem ricos amantes das belas artes e os emergentes não financiam a cultura e se lixam para ela!
A esta altura, o furo da conta se tornou um buraco. Uma cratera cheia de dentes numerados, à espera de mais um funeral. Pensei em cortar os pulsos, mas rapidamente me lembrei das palavras de Dorothy Parker (outra que penou bons bocados) que sabiamente apontou a sujeira que tais suicídios costumam deixar nos tapetes. Bem verdade que não tenho nenhum tapete, mas desisti só de pensar na possibilidade de escapar e depois ter que limpar tudo (mancha de sangue dá uma trabalheira!).
Com o último dente escovado, e aliviada por não ter encontrado nenhuma cárie, esqueci da buraqueira na conta bancária, dos insensatos planos de suicídio e tomei uma decisão digna do masoquismo do beco da cultura: comecei a escrever um livro! Uma decisão que dá de mil em qualquer modalidade de suicídio.
Marcia Frazão
Galera, gostaria de dividir com vocês este texto que recebi por e-mail da minha querida Márcia Frazão – talentosa tanto nas letras quanto na vassoura e no caldeirão. Se alguém for passar adiante, não esqueça de dar o crédito a ela.
Cultura Zero
Ao me olhar no espelho, enquanto escovava os dentes e matutava como cobrir o furo da conta no banco, me dei conta de que faço parte de uma classe tão desvalida quanto a dos desvalidos. Num jorro de água a ficha caiu: o beco da cultura não fica a dever nada ao beco da miséria!
Enquanto caçava cáries no fundo da boca, morrendo de medo de me deparar com uma e ficar banguela por não ter grana para ir ao dentista (no beco da cultura, plano de saúde é apenas mais uma discussão teórica), espichei a memória e contei os mortos e feridos dessa classe que tem a estranha mania de sublimar a tristeza e transmutá-la em beleza. Lembrei-me das dores e dos padecimentos financeiros de Freud e um frio me percorreu a espinha: o pai da psicanálise era um masoquista! Se não fosse, não queimaria as pestanas em pesquisas que mal da vam para pagar o aluguel da casa.
Depois de ter constatado que um dos maiores baluartes da cultura praticamente viveu a vida toda "de favor", o frio da espinha tornou-se gelo quando olhei para os lados e percebi que os tempos eram outros: já não existem ricos amantes das belas artes e os emergentes não financiam a cultura e se lixam para ela!
A esta altura, o furo da conta se tornou um buraco. Uma cratera cheia de dentes numerados, à espera de mais um funeral. Pensei em cortar os pulsos, mas rapidamente me lembrei das palavras de Dorothy Parker (outra que penou bons bocados) que sabiamente apontou a sujeira que tais suicídios costumam deixar nos tapetes. Bem verdade que não tenho nenhum tapete, mas desisti só de pensar na possibilidade de escapar e depois ter que limpar tudo (mancha de sangue dá uma trabalheira!).
Com o último dente escovado, e aliviada por não ter encontrado nenhuma cárie, esqueci da buraqueira na conta bancária, dos insensatos planos de suicídio e tomei uma decisão digna do masoquismo do beco da cultura: comecei a escrever um livro! Uma decisão que dá de mil em qualquer modalidade de suicídio.
Marcia Frazão
Digital luso
Depois de décadas de pesquisa, nossos primos d'além mar desenvolveram um relógio digital para a Internet. Clique aqui e confira o resultado.
Ah, apesar da brincadeira com o patrícios, o site é japonês.
Enviada pela minha querida Claudia Manes
Depois de décadas de pesquisa, nossos primos d'além mar desenvolveram um relógio digital para a Internet. Clique aqui e confira o resultado.
Ah, apesar da brincadeira com o patrícios, o site é japonês.
Enviada pela minha querida Claudia Manes
terça-feira, 13 de janeiro de 2004
Pacificação semântica
Internet é um meio sensacional. Alguém imaginaria, anos atrás, que um leitor pudesse reclamar de uma tradução e ser respondido pelo próprio tradutor? Pois é, Lenita Maria Rímoli Esteves, tradutora do "Senhor dos Anéis", mandou-me uma resposta furiosa. Na troca de e-mails, porém, a discussão evoluiu para um bom debate sobre critérios de tradução. Como ela preferiu enviar-me e-mail direto e não usar os comentários, não reproduzo aqui o diálogo, sorry.
Continuamos divergindo totalmente quanto aos critérios usados para traduzir nomes próprios no livro, mas, agora num tom bem mais ameno. Em nome desse tom, quero rever publicamente alguns termos que usei e que a magoaram.
Onde lia-se "não entende chongas de Tolkien", leia-se "não tem familiaridade com Tolkien".
Onde lia-se "porcalhadas", leia-se "furos".
Onde lia-se "pirada", leia-se "pirada", mesmo. Desculpe, Lenita, mas quem chega ao ponto de escrever tese sobre "Finnegan’s Wake" tem pelo menos um pé muito bem plantado na piração.
Internet é um meio sensacional. Alguém imaginaria, anos atrás, que um leitor pudesse reclamar de uma tradução e ser respondido pelo próprio tradutor? Pois é, Lenita Maria Rímoli Esteves, tradutora do "Senhor dos Anéis", mandou-me uma resposta furiosa. Na troca de e-mails, porém, a discussão evoluiu para um bom debate sobre critérios de tradução. Como ela preferiu enviar-me e-mail direto e não usar os comentários, não reproduzo aqui o diálogo, sorry.
Continuamos divergindo totalmente quanto aos critérios usados para traduzir nomes próprios no livro, mas, agora num tom bem mais ameno. Em nome desse tom, quero rever publicamente alguns termos que usei e que a magoaram.
Onde lia-se "não entende chongas de Tolkien", leia-se "não tem familiaridade com Tolkien".
Onde lia-se "porcalhadas", leia-se "furos".
Onde lia-se "pirada", leia-se "pirada", mesmo. Desculpe, Lenita, mas quem chega ao ponto de escrever tese sobre "Finnegan’s Wake" tem pelo menos um pé muito bem plantado na piração.
terça-feira, 6 de janeiro de 2004
domingo, 4 de janeiro de 2004
Por falar nisso
Já que o assunto é "O Senhor dos Anéis", acho que já deu tempo de a maioria ver o "Retorno do Rei", de maneira que se pode comentá-lo sem estragar a surpresa. Novamente tenho que fazer um esclarecimento: li o livro pela primeira vez há quase trinta anos e não me canso de relê-lo. Vale também lembrar minha opinião sobre os dois episódios anteriores no cinema:
A Irmandade* do Anel: Gosto do filme. O diretor Peter Jackson tirou passagens importantes (Tom Bombadil e o espírito da sepultura) e simplificou situações (a fuga de Frodo do Shire*, o Conselho de Elrond e os motivos que levam Aragorn a não ocupar o trono), mas essas alterações não influíam demais no andamento da história e tornavam o filme mais ágil. Discordo do meu irmão Gil e acho que o perfil dos personagens foi razoavelmente preservado.
As Duas Torres: Detesto figadalmente. Neste, Jackson inventou situações esdrúxulas (elfos na batalha do Elmo, Aragorn brigando com Legolas, Frodo brigando com Sam etc.), e deturpou feio quatro personagens: Theodén, que passa a ser um isolacionista, Elrond, que despreza os humanos (apesar de ser meio-humano), Faramir, que vira um pau mandando, e, a mais grave, Barba-de-Árvore*, que aparentemente ignora a destruição que Saruman promove em sua floresta.
Já o filme novo exige uma análise dupla. Por um lado, é um dos melhores filmes de ação épica que já vi. A batalha de Pelennor é, na minha modesta opinião, a mais impressionante da História do cinema. A concepção de efeitos especiais nunca mais vai ser a mesma depois do trabalho magnífico da equipe de Jackson. Além disso, ele consegue arrancar excelentes performances até mesmo de atores sofríveis, como Viggo Mortensen.
E Shelob*... Graças à computação gráfica, a equipe de Jackson criou a mais monstruosa aranha de todos os tempos. Anteriormente, aranhas eram modelos mal feitos e mal articulados, como em "A Mosca da Cabeça Branca" ou justaposições de imagens que não permitiam interação entre os personagens, como em "O Incrível Homem que Encolheu". Agora, não. A aranha tem todos os movimentos reais e, na tela, interage o tempo todo com Frodo e Sam. Para alguém com uma aracnofobia igual à minha, foi um momento de terror puro.
Por outro lado... Jackson nem introduziu muita coisa, mas tirou partes fundamentais da história. A primeira foi o confronte entre Gandalf e Saruman. É o momento em que fica claro o tremendo aumento do poder daquele. Além disso, o texto de Tolkien teria ficado magistral nas vozes de Ian McKelan e Christopher Lee. Mas cena inteira foi limada.
Mas o pior foi a volta dos hobbits para casa. Tolkien concebeu sua história como um círculo. Ao voltarem da guerra, Frodo, Sam, Merry e Pippin encontram seu país destruído e tomado por criminosos. Cabe a eles, com o conhecimento, a força e a confiança que adquiriram, sublevar o povo e expulsar os bandidos. O confronto com o líder deles (se você não leu o livro, não vou entregar quem é) é um fecho perfeito. Mas Jackson limou tudo.
Pena. Vamos ver se isso melhora na inevitável versão extendida.
* Caso alguém estranhe esses nomes, eu me recuso a usar as invenções da infeliz tradução na última edição brasileira. Lenita Maria Rimoli Esteves pode ser mestre em tradução, mas não entende chongas de Tolkien e usou critérios no mínimo discutíveis. A culpa nem é dela, mas de quem escalou uma especialista em Joyce para traduzir "O Senhor dos Anéis". São estilos e até filosofias literárias completamente diferentes.
Tolkien era lingüista. Ele inventou idiomas, mas, ao contrário de Joyce, não tinha qualquer pretensão de reinventar o inglês. Ele trabalhava com a lógica das línguas germânica, que permitem justapor duas palavras, formando uma terceira. Daí Imladris, que fica num estreito vale, chamar-se Rivendell (riven=fenda e dell=vale), literalmente "Vale Fendido" ou "Vale da Fenda". Vai Dona Lenita Maria e tasca "Valfenda", que serve apenas de túmulo da eufonia.
Uma melhor ainda: o cavalo cinzento (não branco) de Gandalf movia-se tão rapidamente que mal podia ser visto. Quando corria, as pessoas percebiam somente uma sombra passando. Daí ser chamado de Shadowfax, algo como "Feixe de Sombra" ou "Facho de Sombra" (escolhido pela excelente tradução portuguesa). Nossa especialista em Joyce tirou (sabe-se lá de onde) Scadufax. Shelob ("aranha fêmea" em inglês arcaico) virou Laracna, e por aí vai.
Sinceramente, se eu fosse dono de curso de inglês, faria um propaganda com essas porcalhadas e diria "venha estudar conosco para nunca mais aturar tradutores pirados".
Já que o assunto é "O Senhor dos Anéis", acho que já deu tempo de a maioria ver o "Retorno do Rei", de maneira que se pode comentá-lo sem estragar a surpresa. Novamente tenho que fazer um esclarecimento: li o livro pela primeira vez há quase trinta anos e não me canso de relê-lo. Vale também lembrar minha opinião sobre os dois episódios anteriores no cinema:
A Irmandade* do Anel: Gosto do filme. O diretor Peter Jackson tirou passagens importantes (Tom Bombadil e o espírito da sepultura) e simplificou situações (a fuga de Frodo do Shire*, o Conselho de Elrond e os motivos que levam Aragorn a não ocupar o trono), mas essas alterações não influíam demais no andamento da história e tornavam o filme mais ágil. Discordo do meu irmão Gil e acho que o perfil dos personagens foi razoavelmente preservado.
As Duas Torres: Detesto figadalmente. Neste, Jackson inventou situações esdrúxulas (elfos na batalha do Elmo, Aragorn brigando com Legolas, Frodo brigando com Sam etc.), e deturpou feio quatro personagens: Theodén, que passa a ser um isolacionista, Elrond, que despreza os humanos (apesar de ser meio-humano), Faramir, que vira um pau mandando, e, a mais grave, Barba-de-Árvore*, que aparentemente ignora a destruição que Saruman promove em sua floresta.
Já o filme novo exige uma análise dupla. Por um lado, é um dos melhores filmes de ação épica que já vi. A batalha de Pelennor é, na minha modesta opinião, a mais impressionante da História do cinema. A concepção de efeitos especiais nunca mais vai ser a mesma depois do trabalho magnífico da equipe de Jackson. Além disso, ele consegue arrancar excelentes performances até mesmo de atores sofríveis, como Viggo Mortensen.
E Shelob*... Graças à computação gráfica, a equipe de Jackson criou a mais monstruosa aranha de todos os tempos. Anteriormente, aranhas eram modelos mal feitos e mal articulados, como em "A Mosca da Cabeça Branca" ou justaposições de imagens que não permitiam interação entre os personagens, como em "O Incrível Homem que Encolheu". Agora, não. A aranha tem todos os movimentos reais e, na tela, interage o tempo todo com Frodo e Sam. Para alguém com uma aracnofobia igual à minha, foi um momento de terror puro.
Por outro lado... Jackson nem introduziu muita coisa, mas tirou partes fundamentais da história. A primeira foi o confronte entre Gandalf e Saruman. É o momento em que fica claro o tremendo aumento do poder daquele. Além disso, o texto de Tolkien teria ficado magistral nas vozes de Ian McKelan e Christopher Lee. Mas cena inteira foi limada.
Mas o pior foi a volta dos hobbits para casa. Tolkien concebeu sua história como um círculo. Ao voltarem da guerra, Frodo, Sam, Merry e Pippin encontram seu país destruído e tomado por criminosos. Cabe a eles, com o conhecimento, a força e a confiança que adquiriram, sublevar o povo e expulsar os bandidos. O confronto com o líder deles (se você não leu o livro, não vou entregar quem é) é um fecho perfeito. Mas Jackson limou tudo.
Pena. Vamos ver se isso melhora na inevitável versão extendida.
* Caso alguém estranhe esses nomes, eu me recuso a usar as invenções da infeliz tradução na última edição brasileira. Lenita Maria Rimoli Esteves pode ser mestre em tradução, mas não entende chongas de Tolkien e usou critérios no mínimo discutíveis. A culpa nem é dela, mas de quem escalou uma especialista em Joyce para traduzir "O Senhor dos Anéis". São estilos e até filosofias literárias completamente diferentes.
Tolkien era lingüista. Ele inventou idiomas, mas, ao contrário de Joyce, não tinha qualquer pretensão de reinventar o inglês. Ele trabalhava com a lógica das línguas germânica, que permitem justapor duas palavras, formando uma terceira. Daí Imladris, que fica num estreito vale, chamar-se Rivendell (riven=fenda e dell=vale), literalmente "Vale Fendido" ou "Vale da Fenda". Vai Dona Lenita Maria e tasca "Valfenda", que serve apenas de túmulo da eufonia.
Uma melhor ainda: o cavalo cinzento (não branco) de Gandalf movia-se tão rapidamente que mal podia ser visto. Quando corria, as pessoas percebiam somente uma sombra passando. Daí ser chamado de Shadowfax, algo como "Feixe de Sombra" ou "Facho de Sombra" (escolhido pela excelente tradução portuguesa). Nossa especialista em Joyce tirou (sabe-se lá de onde) Scadufax. Shelob ("aranha fêmea" em inglês arcaico) virou Laracna, e por aí vai.
Sinceramente, se eu fosse dono de curso de inglês, faria um propaganda com essas porcalhadas e diria "venha estudar conosco para nunca mais aturar tradutores pirados".
Dance in the dark night
Que o “Senhor dos Anéis” influenciou uma penca de gente é manjado. Mas às vezes a extensão da influência surpreende. Por exemplo, na música The Battle Of Evermore, do Led Zeppelin, a frase “the ringwraiths ride in black” (“os espectros do anel cavalgam de preto”) entrega essa referência.
Agora, minha querida Claudia Manes (valeu, Doc!) mandou-me este site, no qual o autor disseca toda a letra e afirma – a meu ver, com razão – que ela inteira se refere à batalha de Pelennor, ponto alto do “Retorno do Rei”.
Vão lá e confiram.
Que o “Senhor dos Anéis” influenciou uma penca de gente é manjado. Mas às vezes a extensão da influência surpreende. Por exemplo, na música The Battle Of Evermore, do Led Zeppelin, a frase “the ringwraiths ride in black” (“os espectros do anel cavalgam de preto”) entrega essa referência.
Agora, minha querida Claudia Manes (valeu, Doc!) mandou-me este site, no qual o autor disseca toda a letra e afirma – a meu ver, com razão – que ela inteira se refere à batalha de Pelennor, ponto alto do “Retorno do Rei”.
Vão lá e confiram.
Sing to the morning light
Aproveitando o ensejo, seguem aqui a letra e a tradução (meio porquinha):
“The Battle Of Evermore” (Page/Plant)
The Queen of Light took her bow
And then she turned to go,
The Prince of Peace embraced the gloom
And walked the night alone
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The Dark Lord rides in force tonight
And time will tell us all
Oh, throw down your plow and hoe
Rest not to lock your homes
Side by side we wait the might
Of the darkest of them all
I hear the horses’ thunder
Down in the valley below,
I’m waiting for the angels of Avalon
Waiting for the eastern glow
The apples of the valley hold
The seeds of happiness,
The ground is rich from tender care
Repay, do not forget, no, no
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The apples turn to brown and black
The tyrant’s face is red
Oh, war is the common cry,
Pick up your sword and fly
The sky is filled with good and bad
That mortals never know
Oh, well the night is long,
The beads of time pass slow,
Tired eyes on the sunrise
Waiting for the eastern glow
The pain of war cannot exceed
The woe of aftermath,
The drums will shake the castle wall
The Ring Wraiths ride in black, ride on!
Sing as you raise your bow,
Shoot straighter than before
No comfort has the fire at night
That lights the face so cold
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The magic runes are writ in gold
To bring the balance back
Bring it back...
At last the sun is shinning,
The clouds of blue roll by,
With flames form the dragon of darkness
The sunlight blinds his eyes
“A Batalha de Eternamente”
A Rainha de Luz pegou seu arco
E então virou-se para partir,
O Príncipe de Paz abraçou a escuridão
E caminhou sozinho na noite
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
O Senhor das Trevas cavalga com vigor esta noite
E o tempo nos contará tudo
Oh, joguem ao chão seu arado e enxada
Não percam tempo em fechar suas casas
Lado a lado nós esperamos a força
Do mais sombrio de todos
Eu ouço o trovão dos cavalos
Vindo do vale abaixo
Eu espero pelos anjos de Avalon
Espero pelo brilho oriental
As maçãs de vale contêm
As sementes de felicidade,
O chão é rico devido ao cuidado carinhoso
Retribua, não esqueça, não, não
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
As maçãs tornam-se marrons e negras
A face do tirano é vermelha
Oh, guerra é o grito comum,
Apanhe sua espada e corra
O céu está cheio de Bem e Mal
Que os mortais jamais conhecem
Oh, bem, a noite é longa,
As contas do tempo passam lentamente
Olhos cansados no amanhecer
Esperam pelo brilho oriental
A dor de guerra não pode exceder
A aflição de resultado,
Os tambores sacudirão o muro de castelo
Os Espectros do Anel cavalgam de preto, cavalgue!
Cante enquanto ergue seu arco,
Atire mais diretamente que antes
Não há conforto no fogo à noite
Que ilumina o rosto tão frio
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
As runas mágicas estão escritas em ouro
Trazendo de volta o equilíbrio
Traga de volta...
Afinal o sol esta brilhando,
As nuvens azuis seguem ao vento,
Com as chamas do dragão de escuridão
A luz do Sol cega seus olhos
Aproveitando o ensejo, seguem aqui a letra e a tradução (meio porquinha):
“The Battle Of Evermore” (Page/Plant)
The Queen of Light took her bow
And then she turned to go,
The Prince of Peace embraced the gloom
And walked the night alone
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The Dark Lord rides in force tonight
And time will tell us all
Oh, throw down your plow and hoe
Rest not to lock your homes
Side by side we wait the might
Of the darkest of them all
I hear the horses’ thunder
Down in the valley below,
I’m waiting for the angels of Avalon
Waiting for the eastern glow
The apples of the valley hold
The seeds of happiness,
The ground is rich from tender care
Repay, do not forget, no, no
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The apples turn to brown and black
The tyrant’s face is red
Oh, war is the common cry,
Pick up your sword and fly
The sky is filled with good and bad
That mortals never know
Oh, well the night is long,
The beads of time pass slow,
Tired eyes on the sunrise
Waiting for the eastern glow
The pain of war cannot exceed
The woe of aftermath,
The drums will shake the castle wall
The Ring Wraiths ride in black, ride on!
Sing as you raise your bow,
Shoot straighter than before
No comfort has the fire at night
That lights the face so cold
Oh, dance in the dark night
Sing to the morning light
The magic runes are writ in gold
To bring the balance back
Bring it back...
At last the sun is shinning,
The clouds of blue roll by,
With flames form the dragon of darkness
The sunlight blinds his eyes
“A Batalha de Eternamente”
A Rainha de Luz pegou seu arco
E então virou-se para partir,
O Príncipe de Paz abraçou a escuridão
E caminhou sozinho na noite
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
O Senhor das Trevas cavalga com vigor esta noite
E o tempo nos contará tudo
Oh, joguem ao chão seu arado e enxada
Não percam tempo em fechar suas casas
Lado a lado nós esperamos a força
Do mais sombrio de todos
Eu ouço o trovão dos cavalos
Vindo do vale abaixo
Eu espero pelos anjos de Avalon
Espero pelo brilho oriental
As maçãs de vale contêm
As sementes de felicidade,
O chão é rico devido ao cuidado carinhoso
Retribua, não esqueça, não, não
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
As maçãs tornam-se marrons e negras
A face do tirano é vermelha
Oh, guerra é o grito comum,
Apanhe sua espada e corra
O céu está cheio de Bem e Mal
Que os mortais jamais conhecem
Oh, bem, a noite é longa,
As contas do tempo passam lentamente
Olhos cansados no amanhecer
Esperam pelo brilho oriental
A dor de guerra não pode exceder
A aflição de resultado,
Os tambores sacudirão o muro de castelo
Os Espectros do Anel cavalgam de preto, cavalgue!
Cante enquanto ergue seu arco,
Atire mais diretamente que antes
Não há conforto no fogo à noite
Que ilumina o rosto tão frio
Oh, dance na noite escura
Cante à luz matutina
As runas mágicas estão escritas em ouro
Trazendo de volta o equilíbrio
Traga de volta...
Afinal o sol esta brilhando,
As nuvens azuis seguem ao vento,
Com as chamas do dragão de escuridão
A luz do Sol cega seus olhos
quinta-feira, 1 de janeiro de 2004
Leni vive
Passei o Reveillon em Niterói, onde se têm duas queimas de fogos (a belíssima de Icaraí e outra linda lá longe em Botafogo). O que atrapalhou um pouco foi o palco de um show evangélico no qual um pastor tangia seu gado em altíssimo volume (esses caras acham que Jesus é surdo) ao som da banda “O Triunfo da Vontade”.
Quer dizer, esse certamente não era o nome do grupo, mas bem que podia ser. É que os caras eram muito competentes, fazendo um instrumental de alta qualidade. Daí (guardadas as devidas proporções, claro) ter lembrado o filme homônimo de Leni Riefenstahl sobre a convenção do partido nazista em 1934. Um primor técnico, mas com um tema, eh, bem...
Passei o Reveillon em Niterói, onde se têm duas queimas de fogos (a belíssima de Icaraí e outra linda lá longe em Botafogo). O que atrapalhou um pouco foi o palco de um show evangélico no qual um pastor tangia seu gado em altíssimo volume (esses caras acham que Jesus é surdo) ao som da banda “O Triunfo da Vontade”.
Quer dizer, esse certamente não era o nome do grupo, mas bem que podia ser. É que os caras eram muito competentes, fazendo um instrumental de alta qualidade. Daí (guardadas as devidas proporções, claro) ter lembrado o filme homônimo de Leni Riefenstahl sobre a convenção do partido nazista em 1934. Um primor técnico, mas com um tema, eh, bem...
Momento ecológico
Havia na rua um sujeito que nasceu sem braços ou pernas. Seu pés atrofiados eram ligados à bacia, e as mãozinhas aos ombros. O pobre coitado, chamado carinhosamente de “toquinho” pelos vizinhos e parentes, precisava ser carregado o tempo todo.
Um dia, com pena do rapaz, os vizinhos decidiram levá-lo à praia. Toquinho ficou feliz da vida diante do mar. Colocado na beirinha d’água, deliciava-se com a marola tocando-lhe a pele. Estava tão bem e tão tranqüilo que os amigos, entre uma cervejinha e outra acabaram esquecendo dele.
O problema é que a maré começou a subir, e Toquinho foi entrando em desespero, pois não conseguia sair da areia fofa. Deitado de costas e já em pânico, ele não conseguia falar ou respirar, pois a água já chegara no seu rosto.
Eis que passa um ecologista pela praia, vê o desespero do Toquinho, corre na direção dele. Só que, em vez de puxá-lo para a areia seca, leva-o ainda mais para dentro d’água, vira-o de bruços, empurra-o para o fundo e diz, com lágrimas de alegria nos olhos:
- Vai, cumpre o seu destino, tartaruguinha.
Cometida pelo Flávio Falcão
Havia na rua um sujeito que nasceu sem braços ou pernas. Seu pés atrofiados eram ligados à bacia, e as mãozinhas aos ombros. O pobre coitado, chamado carinhosamente de “toquinho” pelos vizinhos e parentes, precisava ser carregado o tempo todo.
Um dia, com pena do rapaz, os vizinhos decidiram levá-lo à praia. Toquinho ficou feliz da vida diante do mar. Colocado na beirinha d’água, deliciava-se com a marola tocando-lhe a pele. Estava tão bem e tão tranqüilo que os amigos, entre uma cervejinha e outra acabaram esquecendo dele.
O problema é que a maré começou a subir, e Toquinho foi entrando em desespero, pois não conseguia sair da areia fofa. Deitado de costas e já em pânico, ele não conseguia falar ou respirar, pois a água já chegara no seu rosto.
Eis que passa um ecologista pela praia, vê o desespero do Toquinho, corre na direção dele. Só que, em vez de puxá-lo para a areia seca, leva-o ainda mais para dentro d’água, vira-o de bruços, empurra-o para o fundo e diz, com lágrimas de alegria nos olhos:
- Vai, cumpre o seu destino, tartaruguinha.
Cometida pelo Flávio Falcão