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quinta-feira, 29 de abril de 2004

Walace de saias

Depois de sua recente e lucrativa experiência na ficção religiosa, Mel Gibson estaria voltando ao épicos históricos e, a exemplo de "Coração Valente", explorando o filão de rebeldes das Ilhas Britânicas.

Segundo a revista inglesa Empire, a Icon, produtora de Gibson, estaria preparando o filme "Warrior" (Guerreira), baseado na história de Boadicea, rainha dos icênios, uma etnia celta da Grã-Bretanha. Segundo biógrafos, por volta de 60 E.A., o marido dela morreu deixando a soberania e as propriedades para as filhas, mas pagando um pesado tributo a Roma, então governada por Nero. Apesar dos bens deixados para o Império, tropas romanas invadiram o território icênio, torturaram Boadicea e estupraram-lhe as filhas.

O ataque aos icênios provocou um levante das demais tribos (potenciais alvos da truculenta pax romana), sob a liderança da já liberta Boadicea. Segundo cronistas, ela reuniu um exército de cem mil guerreiros, arrasou Camulodunum (hoje Colchester) e simplesmente riscou do mapa Londinium, sobre cujas ruínas ergue-se a moderna Londres. No fim das contas, seu exército não foi páreo para as bem treinadas Legiões. Ela foi vencida nas colinas perto de Verulamium (hoje St. Albans). Historiadores romanos contam que ela e as filhas sobreviveram à batalha e mataram-se depois, sendo enterradas com toda a pompa da tradição celta.

A reportagem diz que a Icon está dando uma alteradinha na história, transformando a rainha viúva numa jovem camponesa que se torna líder militar e é chamada de rainha depois de morta. Mais para Joana D'Arc, mas tudo bem.

Boadicéia está em alta, aliás. Além da mini-série (disponível aqui em DVD) e do filme da Icon, a Paramount e a Dreamworks preparam suas versões da história. Depois que "O Senhor dos Anéis" mostrou o potencial dos épicos de batalha, sai da frente...

terça-feira, 27 de abril de 2004

Humor elétrico

Sabe aquela infinidade de piadas sobre quantas pessoas são necessárias para trocar uma lâmpada? Este site é dedicado exclusivamente a elas, divididas em categorias como Zodíaco, Nacionalidades e, acredite, Jornada nas Estrelas. Faltam diversas, especialmente a longa lista de piadas pagãs sobre lâmpadas, mas vale a diversão.

O carro chefe é uma que sempre irrita a Cristina:

- Quantos arianos são necessários para trocar uma lâmpada?
- Um, e umas duzentas lâmpadas...

domingo, 25 de abril de 2004

Fábula da imprensa

As diferentes versões da estória do Chapéuzinho Vermelho segundo cada veículo de comunicação:

CLÁUDIA
Como chegar na casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho

NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama

MARIE-CLAIRE
"Na cama com um lobo e minha avó", relato de quem passou por essa experiência

VEJA
"... fulano de tal, 23 anos, o lenhador que retirou Chapeuzinho da barriga do lobo tem sido considerado um herói na região. ‘O lobo estava dormindo, acho que não foi tão perigoso assim’, admite."

FANTÁSTICO (Glória Maria)
"... que gracinha: gente, vcs não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo! não é mesmo..."

CIDADE ALERTA (Luis Datena)
"...onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? a menina ia para a casa da avózinha. Não tem transporte público! não tem transporte público! e foi devorada viva. Um lobo, um lobo safado. Põe na tela, primo!" e veremos, tintim por tintim, explicadas as táticas para abordar e enganar a vítima.

JORNAL DO BRASIL
"Floresta: Garota é atacada por lobo". Na matéria, a gente não fica sabendo onde, nem quando, nem mais detalhes. O ataque é mais importante que o desfecho.

O GLOBO
"Retirada Viva da Barriga de um Lobo". Na matéria, terá até mapa da região. O salvamento é mais importante que o ataque.

A FOLHA DE S, PAULO
Legenda da foto: "Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador". Na matéria, teremos um box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos.

SEXY
(ensaio fotográfico com Chapeuzinho) "Essa garota matou um lobo!"

CARAS
(ensaio fotográfico idem) "Na banheira de hidromassagem na cabana da avozinha, em Campos de Jordão, Chapeuzinho reflete sobre seu futuro"

segunda-feira, 19 de abril de 2004

Mudança de nome

Fernando Calazans lembra hoje, no Globo, que, quando era técnico do Corinthians, Geninho foi flagrado pelas câmeras de TV mandando os jogadores pegarem os adversários num jogo da Libertadores. Roger obedeceu e foi expulso, abrindo o caminho para a vitória do River Plate.

Esta semana, novamente as TVs deram um flagra no técnico recomendando a violência contra Felipe na final entre Flamengo e Vasco. Mais uma vez foi obedecido, agora por Coutinho, e o resultado foi o mesmo. Expulso o botinudo – quando o empate já dava o título ao Mais Querido –, o esquema do Vasco se desminingüiu e ficou ainda mais fácil a vitória rubro-negra.

Nas aulas de PNL, minha querida Monique dizia que esperar resultado diferente da mesma ação é sintoma de loucura. Não acho que Geninho seja maluco. Parece mais caso de estreiteza intelectual, mesmo.

Assim, a menos que o apelido já seja em si uma ironia, proponho trocarmos o nome do técnico vascaíno de Geninho para Burrinho.

P.S. Pelo menos um consolo a torcida do Vasco teve. Graças à antecipação de Eurico Miranda, não faltou chopp para afogar as mágoas e esquecer o sacode de domingo à tarde.

domingo, 18 de abril de 2004

Ineditismo econômico

Que me perdoe a turma do politicamente correto, mas querer nos convencer que o tráfico de drogas é o único comércio que não depende fundamentalmente dos consumidores é piada.
Westmoreland cor-de-rosa

A Editoria Rio do Globo lançou mão hoje de um recurso de edição primoroso, imortalizado em "Corações e Mentes", documentário de Peter Davis sobre a Guerra do Vietnã. No filme, Davis mostra o enterro de um vietnamita, a viúva em desespero tentando se jogar dentro da sepultura, os filhos em pranto. No fim, apenas o mais novo, com hábito de noviço budista, chorando com uma foto do pai. Um efeito de som estica o choro do menino, e a cena é angustiantemente longa. Quando já não agüentamos mais aquela dor, corta o para o general William Westmoreland, comandante militar americano, dizendo: "os orientais não valorizam a vida como os ocidentais".

A edição de domingo do Globo deu continuidade à muito boa cobertura da guerra que a falta de governo no Rio deixou se abater sobre a Rocinha. Numa matéria, o perfil do psicopata Dudu, que quer dominar a favela; noutra, como a vida de famosos e anônimos foi afetada pelo crime; mais adiante, como a própria economia da cidade sofre com a crise. Eis que, qual o general supracitado, entra a (que todos os Deuses nos perdoem) governadora Rosinha Garotinho dizendo que "a população do Rio se sente mais segura".

Assim como o filme dispensa uma narração para chamar o general de genocida racista, o jornal nem precisou de um editorial para chamar a governadora de cínica. O completo descolamento entre a realidade e o discurso dela e de seu marido, o secretário Garotinho, fala por si. Não que eles precisem se preocupar muito. O lúmpen evangélico que os sustenta não irá abandoná-los, a menos que o pastor mande.

A turma das teorias conspiratórias acha que o casal diminutivo quer mesmo é uma intervenção federal, pois constatou que não tem como melhorar a segurança e prefere que a batata-quente estoure na mão de outro. Pode até ser, mas vão quebrar a cara, pois é com a tristeza de eleitor arrependido que constato não haver em Brasília ninguém com hombridade para meter a espada nesse nosso nó górdio.

Só um detalhe: em janeiro deste ano, no site No Mínimo, meu prezado Xico Vargas cantava a pedra da invasão iminente da Rocinha, dando inclusive o nome dos Dudus, Lulus e outros dissílabos envolvidos. Ou seja, a incompetência da governadora e do secretário não tem sequer a desculpa da ignorância.

domingo, 11 de abril de 2004

Depois é implicância minha...

Está para estrear por aqui um bom filme de vampiros e lobisomens, com os dois pés na estética gótica dos RPGs. O título original é "Underworld" - "submundo", "mundo inferior" ou, com alguma licença poética, "mundo oculto". Título perfeito, aliás, pois trata de uma guerra entre as duas espécies travada longe dos olhos dos humanos – a rigor, só há um personagem humano no filme.

Eis que chega a distribuidora brasileira e comete o título "Underworld – Anjos da Noite". Acreditem, estamos quase chegando n'O Filho Que Era Mãe.

Ah, quanto ao filme. Vale a pena. Boa história, boas reviravoltas e Kate Beckinsale linda como sempre.

quinta-feira, 8 de abril de 2004

Sobrou pro coelhinho

A aparente ausência de limites na psicopatia dos fundamentalistas nunca deixa de me surpreender. Diz o site do jornal norte-americano Sun Sentinel que pais e crianças ficaram chocados com uma exibição feita por evangélicos no estádio de Glassport, na Pensilvânia. No que deveria ser um espetáculo de Páscoa, os pastores/atores simulavam o açoitamento do coelhinho da Páscoa e quebravam ovos de chocolate, enquanto gritavam para as crianças que o dito coelhinho não existia.

Os evangélicos afirmam que o coelho e os ovinhos são símbolos pagãos – modéstia à parte, estão certos, são símbolos da Deusa Oster, da fertilidade, cuja festa coincidia com a chegada da Primavera na Europa pré-necrolatria. Nem precisa ficar por aí: o pinheiro e a guirlanda de Natal e as fogueiras e danças de roda nas Festas Juninas também têm origem pagã.

Agora, era realmente necessário levar crianças às lágrimas simulando o coelhinho apanhando como se estivesse num filme de Mel Gibson?

Dias atrás eu li no Landover Baptist (site que satiriza de maneira ácida a extrema-direita religiosa dos EUA) uma “reportagem” na qual o Pastor Diácono Fred, líder da seita, conclamava os pais a espancarem os filhos que de alguma forma se envolvessem com ovos de chocolate e coelhinhos no período. Depois de ler a matéria do Sun, começo a ter medo de o Landover virar realidade.

quarta-feira, 7 de abril de 2004

No mesmo assunto

Infâmia que cometi há uns três anos na tarefa diária de zoar meu prezado Pedro Doria:

Por que os judeus comemoram o Ano Novo no fim de setembro? Porque as flores para Iemanjá estão mais baratas nessa época.
Divórcio com segundas intenções

Na antevéspera do Rosh Hashaná (Ano Novo judaico) um velho judeu que morava na Flórida liga para o filho, advogado em Nova York, e diz:

- Jacozinho, eu odeio ter que estragar seu dia, mas acho que você precisa saber. Eu e sua mãe vamos nos divorciar.

- Papai, o que você está dizendo? Vocês estão juntos há mais de 40 anos!

- Eu sei, mas não conseguimos nem olhar um para o outro. Vamos nos separar e acabou. Por favor, ligue para sua irmã Raquel e conte a ela.

Desvairado, o rapaz liga para a irmã, que vivia em Los Angeles. Ela, compreensivelmente, dá um chilique.

- De jeito nenhum meus pais irão se divorciar! Que absurdo! Deixe comigo. Vou falar com o papai.

Ela telefona para os pais, tenta todos os argumentos e, como não consegue demove-lo da idéia, apela:

- Pai, eu vou tomar um avião agora. Chego aí amanhã de manhã. Meu irmão também está saindo de Nova York. Por favor, não façam nada até nós chegarmos, ouviu?

O velho concordou, colocou o fone no gancho, virou-se para a mulher e disse:

- Funcionou, Sara. Eles vão passar o Rosh Hashaná conosco e não teremos que pagar as passagens!

Cortesia da Claudia Manes. Agradecido, doc

terça-feira, 6 de abril de 2004

Além do surrealismo

Esqueça tudo o que você já viu em termos de surrealismo. Tramita na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara um projeto, de autoria do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), estabelecendo um limite máximo de gastos que um cidadão pode ter consigo e com seus dependentes. O projeto estabelece o Limite Máximo de Consumo, equivalente a dez vezes a renda per capita nacional, estabelecida pelo IBGE –R$ 7.707, segundo dados consolidados de 2002.

Sete anos após a eventual transformação do projeto em lei, tudo o que um cidadão brasileiro (inclusive os que residirem no exterior) ou um estrangeiro que viva aqui ganhar acima desse limite deverá ser depositado compulsoriamente numa caderneta de "Poupança Fraterna" na Caixa Econômica Federal ou no Banco do Brasil. Isso inclui rendimentos obtidos com trabalho assalariado, já tributado na fonte.

O dinheiro será usado para projetos sociais e será gerido por um conselho ligado à Presidência da República, presidindo pelo ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. O dito conselho será formado por representantes de diversos ministérios, de todas as centrais sindicais, do MST, de ONGs, de universidades e por dois representantes dos garfados, digo, dos poupadores.

Pelo projeto, o "poupador" só poderá reaver seu dinheiro 14 anos depois, em módicas prestações. Uma parte pode ser sacada para comprar a casa própria (até o limite de R$ 200 mil) e para custear doença grave. Ainda segundo a proposta, a Receita Federal deverá fazer um cadastro dos poupadores compulsórios e fiscalizar os depósitos em comparação com sua renda.

Tudo bem que uma parcela ínfima da população tem renda mensal superior a R$ 77 mil, mas não parece um tantinho bizarro confiscar (o nome é esse) rendimentos já tributados e ganhos de forma honesta? Não se vê um projeto para aparelhar melhor a Receita no combate à sonegação, para fechar as brechas legais à elisão fiscal, para tornar mais eficiente o gasto do dinheiro de que já se dispõe etc.

Tem toda a pinta de ser mais um projeto que vai entrar para a lista de esquisitices bem intencionadas que caem no vazio do Congresso.

domingo, 4 de abril de 2004

Ah, ele fala, sim

Acabo de assistir novamente (agora na TV) "Guerra nas Estrelas – O Ataque dos Clones". Voltaram-me à mente três reflexões de quando vi no cinema.

- Ainda que não seja nenhuma Brastemp, o filme é melhor que "A Ameaça Fantasma". Tudo bem que até "Plan 9 From Outer Space" era melhor que "A Ameaça Fantasma". Pior, mesmo, só me ocorre "A Reconquista".

- O casal de protagonistas é ruim de doer. Natalie Portman, que deu um show em "O Profissional" entra para a lista de bons atores mirins que vêem o talento se desintegrar na puberdade. Como disse um crítico americano no lançamento do filme, que falta fazem Tobby Maguire e Kristen Dunst.

- Estou plenamente convencido de que George Lucas fala português. Não só isso, tenho certeza que ele se diverte bolando os nomes dos personagens. No Episódio I tínhamos a Rainha Amídala e o Capitão Panaka. No II, surgem o Conde Dooku e, apenas citado, o inacreditável Mestre Jedi Sifo Dyas. Impossível ser coincidência.

sábado, 3 de abril de 2004

Samba do ensino doido

Ontem o governo anunciou com estardalhaço uma nova avaliação para medir a qualidade do ensino básico. A mola mestra será uma prova a que serão submetidos todos os alunos. O objetivo não é saber como está a educação pública básica - todos sabemos que está um lixo -, mas identificar os principais pontos de carência e desenvolver ações para melhorar a base da educação brasileira. Hoje a avaliação é feita por amostragem e, segundo o MEC, não reflete a realidade. O programa prevê, também, a avaliação dos professores e das instituições.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas vale lembrar que há alguns meses, durante sua gestão indigente, o então ministro Cristóvam Buarque destruiu o Provão do ensino superior - possivelmente a única coisa boa da gestão de Paulo Renato na Era FHC. A desculpa para ceder ao lobby da UNE e das faculdades era que não seria necessário testar todos os alunos, bastava fazer prova por amostragem. Por uma questão de coerência, o MEC devia agora voltar atrás na besteira do antigo ocupante - mesmo tendo que assumir que ele era incompetente.

Outra coisa, é importante ver o que vai ser feito com o resultado dessa pesquisa. O Provão, é bom lembrar, comprovou a noção empírica de que a qualidade de ensino restringia-se às universidade públicas e a um punhado de centros de excelência particulares. Na prática, isso não significou muita coisa, uma vez que o Conselho de Ensino Superior, dominado pelas fábricas de diplomas, não permitiu praticamente nenhuma punição aos cursos de avaliação D e E, e ainda liberou a farra dos centros universitários, shoppings centers (inclusive na localização) de diplomas nas quais, como comprovou reportagem, até um analfabeto consegue entrar.

Só uma observação. Cobri com especial atenção Educação quando fui repórter e sempre foi uma das minhas áreas favoritas na época de coordenador da Nacional do Globo. Por conta disso, acompanhei o desenvolvimento e a aplicação do Provão. Posso dizer que uma das principais pedras de toque da UNE, de que o sistema só avaliava o aluno, é mentira. Pura e simples mentira. O Provão acontecia paralelamente a uma avaliação de currículo, instalações e corpo docente igualmente rigorosa - e cujos resultados, pela situação supracitada, nunca se desdobraram em ações concretas.