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segunda-feira, 23 de maio de 2005

Caminho certo

Caminho certo

Descobri que há cerca de um mês o coronel Jarbas Passarinho - ministro de diversos ditadores do período pós-64 e signatário do AI-5 - escreveu um artigo no Jornal do Brasil criticando (sem citar abertamente) um artigo de Nossa História. Nessas horas eu sinto um tremendo orgulho da minha profissão.

segunda-feira, 16 de maio de 2005

Velha surda americana

Velha surda americana

Esse caso de Guarapari me lembrou os processos contra roqueiros nos anos 80 por conta de suicídios de fãs. O scritp era sempre o mesmo: algum guri com seriíssimos problemas psicológicos metia uma bala nas idéias, e a família, disposta a tudo para livrar a própria cara de qualquer responsabilidade, dizia que algum roqueiro satanista tinha induzido seu bebezinho a se matar. De quebra, processavam o infeliz para arrancar uns milhõezinhos de dólares.

Scorpions e Judas Priest sofreram processos desse tipo, mas o caso mais rumoroso envolveu Ozzy Osbourne. Em outubro de 1984, John McCollun, rapaz de 19 anos, matou-se ouvindo o disco Blizzard of Ozz. A família contratou o advogado Thomas Anderson, que processou o cantor alegando que a faixa "Suicide solution" fizera o rapaz estourar os miolos.

Aí começa a parte divertida. A tradução correta de "Suicide solution" é "Mistura suicida", não "Solução suicida". Ela fala de como o álcool pode acabar com uma pessoa e se refere a Bon Scott, vocalista do AC-DC, que bebeu até desmaiar no carro numa noite de inverno, morrendo de hipotermia. Se o título pode ter duplo sentido, a letra é bem explícita.

Anderson alegou - e apresentou o laudo de um certo Instituto de Pesquisas Bio-Acústicas (IBAR) para provar - que Ozzy incluíra na música uma mensagem subliminar que dizia "Shoot, shoot, get the gun, get the gun" ("Atire, atire, pegue a arma, pegue a arma"). A técnica usada tornaria a pessoa sugestionável à mensagem; no caso, a dar um tiro na cabeça. Por que só o pobre John foi afetado entre os milhões de pessoas que ouviram a canção (inclusive este que vos digita) era uma pergunta que Mr. Anderson preferia evitar.

A acusação, claro, caiu de madura. Ozzy foi absolvido em três processos. A tese de mensagem subliminar não resistiu à contestação no tribunal. Aliás, não sei que fim o tal IBAR levou, mas hoje as únicas referências a ele na Internet estão em sites sobre este caso.

O fim do processo não foi, pelo menos para Anderson, o fim da história. Durante anos ele capitalizou o caso. Numa entrevista, reproduzida no DVD de Ozzy Don't blame me, ele disse que foi a um show do cantor. "Não vi um sorriso", disse - era um show de Ozzy, não de Jerry Lewis, doutor. E insistiu nas mensagens subliminares, agora falando que a canção "Paranoid", gravada por Ozzy ainda como vocalista do Black Sabbath dizia: "I tell you to end you life, I wish I could but it's too late" ("Eu te mando acabar com a sua vida, queria poder mas é tarde demais"). Anderson bem que poderia substituir o saudoso Roni Rios no quadro da Velha Surda, pois a canção diz claramente: "I tell you to enjoy life" (Eu mando aproveitar a vida").

Mas o próprio Ozzy deu-lhe um refresco, contando que durante anos achou que Jimi Hendrix fosse viado. O motivo? Entendia "Excuse me, while I kiss the sky" ("Dá licença, enquanto eu beijo o céu") da canção psicodélica-chapadona "Purple haze", como "Excuse me, wanna kiss this guy" ("Dá licença, quero beijar esse cara"). Na certa foi muita cocaína.

Desculpas, desculpas...

Desculpas, desculpas...

Dois psicopatas assassinaram uma família em Guarapari (ES), roubaram pertences e dinheiro e jogaram a culpa no RPG que disputavam com a vítima. Bastou para que os boçais de sempre voltassem suas baterias contra o jogo, falando mesmo em proibição. Milhares de jovens (e não tão jovens assim) se divertem no Brasil com uma atividade que estimula leitura e imaginação, mas basta aparecerem dois anormais para o jogo virar estímulo à matança.

Vamos combinar uma coisa, então, da próxima vez que um maluco - como aquele pedófilo infanticida que atacou no Rio há alguns anos - cometer um crime dizendo ter sido inspirado por algum versículo particularmente sangrento ou pela pregação de um pastor, a gente proíbe a Bíblia. Pode ser?

Total what?

Total what?

É duro admitir, mas impossível negar. Eu sou geek. Pior, Total Geek. Clique aqui, faça o teste e veja se você também se enquadra.

Cortesia da minha querida Claudia Manes

quarta-feira, 11 de maio de 2005

Repita: baixo tem quatro cordas

Repita: baixo tem quatro cordas

Há muito, muito tempo, aqui mesmo nesta galáxia, eu estagiava no Globo quando uma colega de redação veio me mostrar uma matéria que ela estava fazendo sobre músicos de rua no Centro do Rio. Falava que o carro-chefe do repertório de um guitarrista era a canção "Stairway to Heaven", dos Rolling Stones. Claro que eu corrigi, informando que a música era do Led Zeppelin.

Um repórter de geral não precisa entender profundamente de música, de economia ou de esportes. Quando se vê diante de uma informação sobre um assunto que não domina, tem obrigação de checar com que entende. Essa lição antiga foi esquecida hoje pela normalmente cuidadosa Geral do Globo.

Na matéria sobre o show dos Rolling Stones no Rio, diz que o grupo fez um show surpresa na entrevista coletiva com dois baixistas: Darryl Jones e Ron Wood - que, aliás, virou Woods na chamada da página 2. Wood realmente tocou baixo... em 1968, no disco Truth, de Jeff Beck. Desde então é guitarrista. Uma checada rápida com o Segundo Caderno teria evitado o erro - agravado pelo fato de Wood aparecer na foto que ilustra o texto tocando uma guitarra, não um baixo.

terça-feira, 10 de maio de 2005

Em resumo... maluquetes

Em resumo... maluquetes

Conta meu pai que, durante uma palestra do saudoso Darcy Ribeiro no início dos anos 60, um estudante com pinta de porta-estandarte da TFP pediu um aparte e começou dizendo que era "um conservador", ao que o professor, cortante como sempre, replicou: "Só se for de fralda. E você lá tem idade pra ser conservador? Não viveu nada, vai conservar o quê?"

Tenho que confessar que nunca entendi exatamente o pensamento conservador, melhor dizendo, o pensamento dos conservadores. Não é que não entenda os postulados teóricos - não concordo, mas entendo. Também não tenho problemas em compreender os motivos para uma pessoa rica ou de classe média alta ser conservadora; afinal, é do interesse dela manter o conjunto de fatores que lhe permitiu a riqueza. O que não me entra na cabeça é o fascínio que esse tipo de pensamento exerce sobre pessoas que, invariavelmente, acabam prejudicadas quanto tais idéias são postas em prática.

Isso aqui no Brasil. Nos EUA, de onde importamos praticamente tudo que não presta, a coisa é ainda mais grave. Em seu livro What's the matter with Kansas? (Qual o problema com o Kansas?), o escritor Thomas Frank relata como a visão política da classe média norte-americana se descolou de seus problemas cotidianos. Ele lembra como, nos últimos trinta anos, a política dos EUA se tornou mais conservadora graças ao voto da classe média (assalariados e pequenos empresários), justamente o setor que mais perdeu em termos materiais com esse conservadorismo político. "Você pode ver o paradoxo na rua principal de qualquer cidadezinha no interior dos EUA. Avisos de que a loja está fechando dividem a vitrine com cartazes de apoio a George W. Bush", conta Frank.

Hoje, na revista virtual Slate, o articulista Timothy Noah dá conta de uma possível explicação (ainda que acabe não concordando): Os conservadores podem, simplesmente, não bater bem da bola. A conclusão está num estudo publicado há dois anos por pesquisadores de três universidades norte-americanas, entrevistando 22.818 pessoas em doze países.

Political conservatism as motivated social cognition (Conservadorismo político como percepção social motivada) identifica uma série de variáveis psicológicas associadas ao conservadorismo político. Segundo os autores, pessoas de níveis sociais mais baixos tendem a abraçar ideologias de direita diante de medo, ansiedade, dissonância, incerteza e instabilidade. O processo, aliás, acontece também em regimes totalitários de esquerda - que se tornam conservadores, no sentido de resistirem a mudanças. "Muitos esquerdistas em regimes totalitários comunistas exibiam a mesma rigidez de pensamento e outras características psicológicas que seriam, em outro contexto, associadas a direitistas", dizem.

Um dos conceitos mais interessantes com os quais trabalham é a "intolerância com a ambigüidade", que caracteriza uma visão dicotômica rígida em relação a tudo. Lembro-me que, na faculdade, um professor nos fez analisar a série de TV americana Wiseguy, que aqui foi exibida como O homem da Máfia. Nela, um agente do FBI era infiltrado numa família mafiosa para levantar provas contra o capo. Por envolver capítulos e não episódios, a série permitiu desenvolver melhor o perfil psicológico dos personagens. Isso, somado ao fato de se passar prioritariamente dentro da quadrilha, resultou em mafiosos que, embora fossem criminosos cruéis, tinham relações de amizade, carinho pela família etc. Durou quatro anos, a despeito de níveis de audiência nunca melhores que medianos. Na análise de críticos e teóricos, seus personagens multifacetados incomodavam o público conservador, que gosta de bandidos dando tiro em cachorro e batendo na mãe.

Outro conceito que vale olhar é o gerenciamento do terror. Diante de uma situação - real ou imaginária - que represente medo, o conservador tende a se agarrar a seus valores e a rejeitar outras visões. O terror, no caso, não se refere simplesmente ao medo da morte ou de uma violência física, mas ao medo do "outro", de tudo que possa ser diferente da visão de mundo do indivíduo. Daí o racismo, a xenofobia e a homofobia que, em diferentes níveis, permeiam o pensamento conservador em todo o mundo.

Sinceramente, acho que Noah descartou as conclusões do estudo baseado numa leitura muito preguiçosa. Em momento nenhum o texto diz, como ele dá a entender, que conservadores ou pessoas de classe média têm mais medo da morte que outras. O que está em questão é como esse medo é processado psicologicamente e como se reflete na visão de mundo dessas pessoas.

De qualquer forma, a idéia de que o conservadorismo tenha um componente psico-patológico abre caminho para uma esperança: a de que ele tenha cura.

Em tempo: Os americanos usam uma linguagem muito peculiar na política, que não se aplica em nenhum outro lugar do mundo. "Radical" significa "extremo-esquerdista", ainda que Bush seja um sujeito extremamente radical. "Liberal", que em qualquer outro lugar se aplica adeptos do liberalismo econômico, lá quer dizer "esquerdista" ou "centro-esquerdista". Os "conservadores" norte-americanos englobam liberais (economicamente falando), conservadores propriamente ditos, especialmente em assuntos religiosos e morais, e até anarquistas de direita - só nos EUA pra inventarem um troço desses...

quinta-feira, 5 de maio de 2005

Apocalipse revisado

Apocalipse revisado

Sabe aquele seu primo aborrecente revoltado-com-o-mundo e fã de Doom Metal que tatuou um 666 no peito pra chocar as tias nas festinhas de família? Parece que ele vai ter de voltar ao tatuador...

Diz hoje o jornal inglês Independent que o Número da Besta, citado no Livro das Revelações (13:18), seria 616 e não 666. Cientistas teriam decifrado o que seria um pequeno fragmento da mais antiga cópia do Apocalipse, escrita em grego arcaico no final do século III E.A., e deram de cara com o novo número.

Na verdade, o 616 não é exatamente inédito. Ele aparecia em outras poucas cópias, mas historiadores atribuíam-no a erros de copistas. A diferença desta vez está na idade do manuscrito. Embora os livros do Novo Testamento sejam atribuídos a apóstolos e cristãos primevos, não existem cópias que datem daquele período. O Apocalipse, por exemplo, é atribuído ao apóstolo João. Sendo contemporâneo de Jesus, qualquer texto seu teria, obrigatoriamente de ser escrito até, digamos, o terceiro quarto do século I. Entretanto, o fragmento em questão, datado de duzentos anos depois, seria a cópia mais antiga. O tal "erro de copistas" poderia, perfeitamente, ser o 666, então.

Ouvido pelo Independent, o professor David Parker, da Universidade de Birmingham (Inglaterra), disse que os números são resultados de gematria, um sistema que atribui valores numéricos a letras. Dessa forma, 616 se referiria ao imperador Calígula, que reinou de 37 a 41 E.A. Não deixa de ser uma referência curiosa, uma vez que Calígula, embora tenha aprontado muitas, não ficou famoso com perseguidor de cristãos.

De qualquer forma, vai ser curioso ver Bruce Dickinson cantar "Six, one, six, the number of the beast"...

Veja aqui o fragmento, encontrado junto com outros restos arqueológicos no Egito:

segunda-feira, 2 de maio de 2005

Presidente Alencar

Presidente Alencar

Recebi uma informação estarrecedora. O vice-presidente José Alencar estaria se preparando para assumir a Presidência da República. O motivo está numa entrevista concedida pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva à revista Caros Amigos em novembro de 2000, dois anos antes de ser eleito para o cargo atual. Confiram o que ele disse:

"Se eu ganhasse a Presidência para fazer o mesmo que o Fernando Henrique Cardoso está fazendo, preferiria que Deus me tirasse a vida antes. Para não passar vergonha. Porque, sabe o que acontece? Tem muita gente que tem direito de mentir, o direito de enganar. Eu não tenho. Há uma coisa que tenho como sagrada: é não perder o direito de olhar nos olhos de meus companheiros e de dormir com a consciência tranqüila de que a gente é capaz de cumprir cada palavra que a gente assume. E, quando não as cumprir, ter coragem de discutir por que não cumpriu".

Ou seja, na hora que Deus der uma conferida no que acontece por aqui, Lula empacota no ato.