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quarta-feira, 29 de junho de 2005

Nada pessoal

Nada pessoal

Um brasileiro entra na polícia em plena Caxias do Sul e dirige-se ao delegado:
- Vim me entregar, cometi um crime e desde então não consigo viver em paz.
- Meu senhor, as leis aqui são muito severas e são cumpridas e se o senhor é mesmo culpado não haverá apelação nem dor de consciência que o livre da cadeia!
- Atropelei um argentino na estrada ao sul de Caxias.
- Ora meu amigo, como o senhor pode se culpar se estes argentinos atravessam as ruas e as estradas a todo o momento?
- Mas ele estava no acostamento.
- Se estava no acostamento é porque queria atravessar, se não fosse o senhor seria outro qualquer.
- Mas não tive nem a hombridade de avisar a família daquele homem, sou um crápula!
- Meu amigo, se o senhor tivesse avisado haveria manifestação, repúdio popular, passeata, repressão, pancadaria e morreria muito mais gente, acho o senhor um pacifista, merece uma estátua.
- Eu enterrei o pobre homem ali mesmo, na beira da estrada.
- O senhor é um grande humanista, enterrar um argentino, é um benfeitor, outro qualquer o abandonaria ali mesmo para ser comido por urubus e outros animais, provavelmente até hienas.
- Mas enquanto eu o enterrava, ele gritava: Estoy vivo, estoy vivo.
- Esses argentinos mentem muito...

Cortesia da Bete

domingo, 26 de junho de 2005

Quadrilha

Quadrilha

Cenário, uma mega-festa junina na Zona Oeste do Rio na tarde de domingo. Na hora da quadrilha, o animador dá o mote e os participantes respondem.

- Olha a cobra!
- É mentira!
- Olha a chuva!
- É mentira!
- Olha o mensalão de vinte milhões!
- É verdade!

Numa boa, quando a suspeita se arraiga nesse nível, não há como descolar.

sábado, 18 de junho de 2005

Soltaram o morcego

Soltaram o morcego

Batman begins não é o título ideal para o filme que acabo de ver. Nem me refiro à patuscada de usar no Brasil o título em inglês, não. Por uma questão de coerência com as versões anteriores, deveria se chamar Batman at last. Pela primeira vez se fez um filme cujo objetivo era contar a história do Homem-Morcego, não servir de veículo para os delírios visuais de Tim Burton ou as fantasias homoeróticas de Joel Schumacher.

Vi o primeiro Batman de Burton na estréia (estréia mesmo, primeira sessão no Odeon). Saí do cinema impressionado com o visual do filme, mas insatisfeito. Não era Batman, era "Batman de Tim Burton". Para transformar o baixinho e franzino Michael Keaton (um dos mais clássicos miscastings do cinema) no herói foi preciso enfiá-lo numa armadura que o transformou num Robocop. Aliás, até o Robocop tinha mais mobilidade que ele.

Transformar o Coringa no assassino do casal Wayne foi uma tijolada, jogando para escanteio a relação de contraponto entre ele e Batman. Da mesma forma, Burton "reinventou" o Pingüim e a Mulher Gato na continuação. Por fim - e esse é motivo de uma querela eterna aqui em casa - centrou suas histórias num personagem que não existe: Bruce Wayne.

Dos filmes de Schumacher nem vale a pena falar, ainda que eu considere Val Kilmer o Batman menos ruim daquele ciclo. No terceiro filme, Jim Carey (Charada) e Tommy Lee Jones (Duas-Caras) ficam disputando quem teria sido o melhor Coringa. Do quarto, então, com George Clooney, não há nada que se possa dizer de bom.

Chegamos então a esse. Vou tentar ao máximo não cometer spoilers. Num dado momento, um personagem fala a verdade que Burton preferiu ignorar: Bruce Wayne é a máscara. O personagem de verdade é Batman. Ainda que a fantasia de morcego só apareça na segunda metade, é Batman que está ali desde o começo, treinando com o personagem de Lian Nesson - uma espécie de Qui-Gon Jinn sith.

O filme é inspirado em Batman - Ano um, de Frank Miller - que, na época, chamávamos de "a mini-série do tenente Gordon". Personagens como o mafioso Falcone e o policial corrupto Flass estão lá. A seqüência final é quase idêntica à da revista, assim como um recurso engenhoso que Batman usa quando é encurralado pela Swat.

A personagem de Kate Holmes não é "a namorada do Batman". Ela é a pessoa do herói na promotoria, um papel que, na revista, era desempenhado pelo promotor Harvey Dent - futuro Duas-Caras. Christian Bale está excelente como Batman - excelente a ponto de não ser engolido por feras como Neeson, Michael Caine (Alfred), Morgan Freeman (Lucius Fox, o armeiro de Batman) e Gary Oldman (Gordon).

Dessa vez não há nada de risível ou patético nos vilões. Todos os outros eram, de alguma forma, vítimas. Falcone e o Espantalho não. São movidos por ganância e desejo de poder. Sem falar no vilão de verdade na história - aliás, o meu favorito entre os inimigos de Batman. Mas aí eu não posso detalhar, se não vira spoiler demais.

quinta-feira, 16 de junho de 2005

País do buraco

País do buraco

Acabo de atravessar a BR 235, que cruza Pernambuco, Bahia e Piauí. Tirando o trecho pernambucano, não da pra chamar aquilo de estrada. Onde havia acostamento de barro, era mais rápido seguir por ele, dada a inacreditável quantidade de buracos.

Na saída de Casa Nova (BA), um grupo de operários recapeava um trecho de não mais de 500 metros. Quer dizer, recapeava é gentileza minha. Como bem definiu nosso motorista, eles estavam "pintando o barro com cor de asfalto", de tão fina que era a camada. Uma chuva leve (como a que caía na região ontem) ou um caminhão vazio leva tudo embora.

Agora, como desenvolver as cidades da região sem produção? Como produzir sem levar os produtos aos centros consumidores? Como fazer esse transporte por vias tão precárias? E o turismo? Quem é um herói que vai fazer em seis horas uma viagem que mal levaria três, sacudindo como um peão nesses rodeios infames? Sem contar que o trajeto só pode ser feito de dia. À noite, juntam-se aos buracos hordas de assaltantes.

Ida e volta por aquela zona de bombardeio (ou queda de meteoros) me levou a constatar que, para fins de estradas, Brasil e Bahia não tem governo. Não é questão de ter governo incompetente. É não ter governo at all.

segunda-feira, 13 de junho de 2005

De Naya a Jackson

De Naya a Jackson

Não sei se serve de consolo, mas, pelo menos em termos de Justiça esculhambada, estamos pau a pau com os EUA.

quarta-feira, 8 de junho de 2005

Daí é que não sai nada

Daí é que não sai nada

Imagine a seguinte situação: No meio de uma partida de futebol, jogadores de um dos times denunciam ao juiz que um adversário deu um chute sem bola na canela do goleiro. O árbitro chama o suposto agressor e este, para se defender da acusação, mostra as mãos, para o juiz ver que não há marcas.

Conclusão? O cara está embromando o juiz. Se deu um chute, não haveria mesmo marcas nas mãos.

A situação pode parecer ridícula, mas é exatamente o que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, está tentando fazer, segundo o noticiário. Pivô da atual crise política, ele ofereceu abrir mão dos sigilos fiscal e bancário.

Bonitinho, não? Só tem um problema: No momento, ele não é acusado de enriquecimento ilícito ou de sonegação fiscal. A acusação é que pagava mesada a deputados da escória aliada para votarem com o governo. É improbabilíssimo que ele usasse uma conta oficial para isso ou que declarasse ao fisco. A quebra dos sigilos, para citar o Analista de Bagé, é tão produtiva quando mijar num incêndio.

Será que ele não topa trocar pela quebra do sigilo telefônico de casa, do celular e do escritório? Aí é que pode estar uma pista.

segunda-feira, 6 de junho de 2005

De volta ao assunto

De volta ao assunto

Raciocínio (por si só maquiavélico) da Cristina: "Sei que é o cúmulo do maquiavelismo, mas e se o Roberto Jefferson inventou essa história há mais de um ano e foi falando dela com as pessoas para, quando viesse a público, elas confirmarem que tinham sido alertadas?"

O pior é que não é uma hipótese a ser descartada...

Pausa pra respirar II - A Missão

Pausa pra respirar II - A Missão

Depois de décadas de mistério, revelou-se a identidade de "Garganta Profunda", a secretíssima fonte de Bob Woodward e Karl Bernstein, do Washington Post, no caso Watergate. Fiquei pensando, se George Lucas tivesse dirigido Todos os Homens do Presidente, daqui a alguns meses teríamos uma versão revista do filme com um ator criado por computador vivendo Mark Felt, o então vice-diretor do FBI que fornecia informações para os repórteres.

Pausa pra respirar

Pausa pra respirar

Leio hoje que a Apple pretende adotar processadores Intel em seus computadores a partir do ano que vem. Durante anos meus amigos usuários de Mac - Pedro Doria e Octávio Aragão à frente - viviam deitando falação sobre a confiabilidade das maçãs. Não só do celebrado Mac-OS, mas do hardware propriamente dito. Parece que Steve Jobs não concorda...

Fico que imaginando a cara da turma que se divertia nas convenções de usuários de Apple com adesivos dizendo "Intel Outside"...

Cara a tapa

Cara a tapa

Por mais chocante que seja, tudo indica que a denúncia de Roberto Jefferson está se configurando como verdade, ainda que falte o revólver fumegante na mão de Delúbio Soares, tesoureiro do PT. Primeiro foi o deputado Miro Teixeira (PT-RJ) que confirmou ter recebido a denúncia de Jefferson quando era ministro das Comunicações. Miro disse que, na época, insistiu com Jefferson que a denúncia fosse levada a Lula, mas o deputado amarelou. Por isso, declarou hoje, não acreditava que ele tivesse, de fato, contado ao presidente. Mas deixou no ar que existem denúncias de corrupção ainda piores a caminho.

Eis que agora à noite o ministro Aldo Rabelo, da Coordenação Política, admitiu que Lula realmente recebeu a denúncia, mas sem os detalhes e a reação lacrimosa de que Jefferson falou. Por mais ridículo que pareça, a tônica da fala de Aldo que é as acusações não são contra o governo, mas contra "um partido". O "um partido", no caso é só o partido do presidente e da cúpula do governo. Parece ter feito pós-graduação na Escola George W. Bush de embromação política.

Mais cedo, o senador Aloísio Mercadante (PT-SP), que anda precisando tomar Simancol na veia, subiu à tribuna para garantir que Lula não tinha chorado. "Quem conhece o presidente Lula sabe que ele não é muito de chorar." Pombas, Lula cansou de ser sacaneado por chorar em qualquer solenidade.

A situação é muito triste, especialmente para ex-eleitores de Lula, como eu. Como Delúbio não é burro nem louco, não deve ser fácil provar a existência do mensalão. É improbabilíssimo que tenham sido usadas contas quentes. Por outro lado, vai ser igualmente difícil segurar uma CPI, uma vez que qualquer deputado que fique contra passa a ser suspeito de ter se beneficiado pela boquinha. Em vez de uma comissão para investigar a roubalheira de petebistas nos Correios, teremos uma para arregaçar em público as entranhas do partido do governo até a próxima eleição. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, podia imaginar um cenário desses.

Ah, duas constatações importantes:

1) Roberto Jefferson é um artista. Pivô de denúncias de corrupção nos Correios e no IRB, conseguiu em um dia virar o jogo. A manchete do Globo hoje denunciava que seus apadrinhados manipulavam até R$ 4 bi. Dificilmente ele será réu nas manchetes de amanhã.

2) Pobre JB. A denúncia que sacudiu o país hoje pelas páginas da Folha tinha saído no jornal carioca no ano passado, atribuída então a Miro Teixeira. A absoluta falta de repercussão dá uma boa medida da pouca relevância do outrora sonho de consumo dos estudantes de jornalismo. Uma pena.

Me engana que eu gosto

Me engana que eu gosto

Diz o ditado que os Deuses estão nos detalhes. Acusado, como diria Chico Buarque, até de dar desfalque no banco dos réus, Roberto Jefferson diz que o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava um mensalão a deputados dos partidos de aluguel na "base aliada". Os valores, diz ele, chegariam a R$ 30 mil.

Não que eu continue acreditando na lisura do PT, mas daí a Jefferson dizer que a prática não acontecia no governo anterior e, pior, que ele e o PTB não aceitaram, é abuso. Há que se ter um mínimo de respeito pela inteligência alheia.

sexta-feira, 3 de junho de 2005

Ser otário é tudo de bom

Ser otário é tudo de bom

Eu sou um otário. É serio. Não tenho nem nunca tive o gene da esperteza, o talento para bolar esquemas mirabolantes e a capacidade de "levar vantagem em tudo". Por conta disso, mês após mês tento (e raramente consigo) equilibrar o orçamento, trabalhando e fazendo eventuais frilas.

Claro que isso tem um lado positivo. Por reconhecer-me otário, eu nunca caio em golpes. Sempre que alguém me oferece um "negócio maravilhoso", uma "oportunidade em um milhão", acredito que o sujeito quer tirar vantagem da minha óbvia otarice. Como sei que não sou esperto, sempre amarelo. Talvez algum dia perca um "negócio maravilhoso" de verdade, mas até hoje só consegui escapar de furadas.

Porque esse é o detalhe: o mundo não está divido entre "otários" e "espertos", mas entre "otários", "espertos" e "muito espertos". Quem cai nos golpes dos muito espertos são os espertos, não os otários. Quando um muito esperto convida para participar, por exemplo, de um negócio que envolve desvio de verbas, um otário acha que vai ser descoberto e não entra. Um esperto acha que vai se dar bem e acaba ganhando um processo do Ministério Público.

Lembrei disso, entre outros motivos, ao ler hoje que empresários espertos morreram em R$ 300 milhões na mão de uma quadrilha que oferecia empréstimos internacionais a longuíssimo prazo e juros baixos. Qualquer otário que já precisou levantar uma grana no banco sabe que isso não existe. Mas os espertos acreditavam realmente que, pagando 10% do valor que pretendiam levantar, a grana viria molinha, molinha... Ah, para passar ao largo dos impostos - sonho dourado de todo esperto -, a grana seguia por doleiros em paraísos fiscais.

O esquema era bacana, envolvendo até escritórios de fachada na Quinta Avenida. Uma vez adiantado o dízimo (Por que será que toda instituição fraudulenta trabalha com dízimos?), o tal fundo negava o empréstimo alegando irregularidades na empresa do esperto. Como é mais fácil achar o Bordel das Normalistas do que uma empresa brasileira cem por cento limpa, não faltavam motivos para as negativas. Com as calças na mão, os espertos não tinham sequer como reaver o dinheiro, pois a remessa fora ilegal.

O esquema era tão bom que funcionou por quatro anos.

quinta-feira, 2 de junho de 2005

Falando nisso

Falando nisso

Tem dois artigos muito bons na imprensa online hoje sobre o desalentador quadro político. O primeiro, mais específico, de Ricardo A. Setti em no mínimo, chama a atenção para a manobra calhorda que um grupo de senadores petistas tentou armar em torno da CPI dos Correios. Eduardo Suplicy (SP), Christovam Buarque (DF), Serys Slhessarenko (MT), Ana Júlia Carepa (PA), Flávio Arns (PR) e Paulo Paim (RS) firmaram um acordo pelo qual assinariam o requerimento da CPI, mas só no último instante e se o governo conseguisse evitar a instalação. Posariam de paladinos da moralidade sem, efetivamente, terem contribuído para isso.

A cachorrada não deu certo porque Suplicy se antecipou e assinou o requerimento quando o governo ainda tentava comprar parlamentares. Foi criticado por Christovam e já se fala que o PT, em vingança, pode negar-lhe a vaga para concorrer à reeleição, em favor do aliado Orestes Quércia, cujos padrões éticos estão em maior sintonia com o governo, obviamente.

O segundo artigo, mais amplo, é de Hélio Schwartsman e está na Folha Online. Trata, fundamentalmente do ocaso do PT e da constatação de que o partido nunca teve de fato um projeto político para o país. Ao chegar no poder, repete (com menos eficiência) os mesmos vícios dos governos anteriores, o mesmo loteamento do governo para partidos que em vez de programa têm prontuário, o mesmo desprezo pelos compromissos éticos e históricos etc.

O agravante é que o atual governo foi eleito (inclusive por mim, devo lamentar) na esperança de mudar, ainda que minimamente, esse quadro. Ver Lula chamando Roberto Jefferson de parceiro e aliciando o PP de Maluf para evitar uma investigação sobre o PTB do mesmo Jefferson é algo que eu nunca esperei ver. Como lembra Schwartsman, a putrefação (o termo é meu) do PT reforça a idéia de que todo político é igual e abre caminho para o pior tipo de populismo - impossível nas ratazanas diminutivas que governam atualmente o Rio.

Só faltava essa

Só faltava essa

O Congresso dos Estados Unidos, que está longe de ser um exemplo de pensamento avançado, aprovou uma lei passando por cima da proibição de George W. Bush às pesquisas com células-tronco embrionárias. E já se articula para derrubar um eventual veto presidencial, num raro momento de união entre democratas e republicanos.

Ou seja, Lula conseguiu nomear um procurador-geral da República mais retrógrado que os políticos norte-americanos...

Aliás, entre fanáticos religiosos, nulidades administrativas e apadrinhados na cleptocracia política, a caneta do presidente anda fazendo mais estragos que os tornados.

quarta-feira, 1 de junho de 2005

Cabotino é a mãe

Cabotino é a mãe

Crianças, dêem uma conferida na materinha quem emplaquei em no.minimo hoje. O tema é Revelations, um notável fan film de quarenta minutos ambientado no universo de Guerra nas Estrelas. Para uma produção de fundo de quintal financiada pelo cartão de crédito estourado do diretor, é impressionante. Não é à toa que mais de um milhão de internautas (eu incluído) já baixaram gratuitamente o filme.

De quebra, confiram a crítica do Dapieve tecendo loas ao novo CD do Audioslave. Ainda não ouvi, mas concordo. O disco de estréia da nova turma de Chris Cornell foi, na minha radical opinião, a única coisa realmente boa em termos de rock a vir dos EUA nos últimos anos.