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terça-feira, 7 de setembro de 2004

A Vila da Marushcka

Na Rua Senador Dantas, no Centro do Rio, havia um cinema que, em seus últimos dias, especializou-se em exibir filmes pornôs. Todo início de tarde ele ficava lotado de office boys para uma masturbação pós-prandial. O nome do cinema, hoje um estacionamento, fugiu-me, mas não era um poeira, não; chegou a passar bons filmes comerciais. Mas, diante do esvaziamento da Cinelândia, apostou suas últimas fichas no filão do sexo explícito.

No fim de 1987 estreou no Brasil um filme chamado Diabo no corpo, produção ítalo-fracesa dirigida por Marco Bellochio. O filme tinha pretensões intelectuais e, claro, era chato de doer. Seu único atributo era a nudez praticamente constante da atriz principal, a holandesa Maruschka Detmers - que já mostrava as formas no cartaz sensual. O ponto alto é a cena em que ela aplica um rápido mas real felatio no ator Federico Pitzalis.

Talvez por conta dessa cena fugaz e do cartaz sexy, o filme foi exibido da dita sessão-punheta do cinema supracitado. Bem, vocês imaginam, né? Os boys esperavam duas horas de lesco-lesco e deram de cara com duas horas de nudez soft-core, blá-blá-blá intelectualóide em italiano e um mísera e rápida cena de sexo oral. Rolou quebra-quebra, e o caso foi parar nos telejornais locais.

Como e por que eu lembrei dessa história? Hoje, assistindo A Vila, novo filme de M. Night Shyamalan. Não, ninguém chupa ninguém na Vila. A semelhança é que o cinema estava cheio de aborrecentes atrás de uma história de terror sanguinolenta, e o filme é tudo, menos isso. Dos quatro filmes de Shyamalan, é o mais adulto - talvez por isso as crianças, personagens centrais dos anteriores, sejam mero elemento cenográfico neste.

Em seus dois primeiros filmes (o aclamado Sexto sentido e o subestimado Corpo fechado), Shyamalan mostrou duas especialidades: dirigir crianças e dar rasteiras no público. Já no fraco Sinais, ainda que arrancasse uma belíssima performance dos atores-mirins, cochilou no roteiro e produziu pela primeira vez uma história previsível. Desde o começo está na cara que são alienígenas mesmo, que a asma do menino vai ter um papel fundamental e que tudo é um pano de fundo para o pastor recuperar sua fé. Chaaaaato.

Desta vez ele voltou a carregar nas surpresas e nas idas e vindas de uma história que, independentemente de sustos eventuais e de uma única cena de sangue, está completamente fora dos padrões do terror. Por disso saí do cinema ouvindo de um bando de gente cuja soma da idade com o QI não chegava a 40 variações de "Maluco, que filme merda".

Em tempo, para não estragar a surpresa, vou deixar passar umas semanas antes de comentar a história. Só um detalhe: são três rasteira que ele dá. A primeira eu matei antes mesmo de assistir, só lendo a resenha e ruminando o estilo do diretor. A segunda eu matei logo no começo, percebendo uma falha no meu raciocínio anterior. Na terceira, confesso, eu caí.

Depois eu explico...

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