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domingo, 6 de fevereiro de 2005

Biografia agonizante

Biografia agonizante

Dia desses eu e Xico Vargas conversávamos sobre os motivos para a ministra Marina Silva continuar na pasta do Meio Ambiente. Apego ao poder? Fidelidade cega ao partido? Esperança de algum dia ter voz nas decisões do governo (teoria da Cristina)?

Sinceridade? Não faço a menor idéia. Para minha decepção, ela perdeu outra esta semana. O governo abriu as pernas para grileiros (em bom português, invasores de terras públicas) e madeireiros que bloqueavam estradas no Pará, cortando o abastecimento de víveres de pequenas cidades. O protesto era contra a ação do Ibama para moralizar a extração de madeira na região. Mais uma bola nas costas da ministra.

Aqui cabe um esclarecimento. Apesar de não ser cristão e não ter vocação pra sair carregando culpas, tenho que confessar que votei na atual administração. No que se refere à economia, ainda que a decepção seja grande, há que se reconhecer que, para acalmar a banca, desde a campanha Lula garantia que não haveria choques ou rupturas. Não dizia com todas as letras, mas o continuísmo já estava lá. Ok, ok, não precisava botar sonegador da Previdência no Ministério, mas...

No caso do meio ambiente, a conversa era outra. A plataforma do PT na campanha era calcada no desenvolvimento sustentável e no respeito às leis (tanto ambientais quanto convencionais). A presença de Marina Silva no ministério seria uma garantia do cumprimento desse programa. Doce ilusão...

Até agora, todas a vezes em que rolou uma dividida entre a área ambiental e alguma outra, a ministra perdeu. O pior é que a vitória acaba sempre favorecendo o crime. Crime? Sim, crime. Plantar sementes proibidas é crime. Cortar madeira em área de preservação, idem. Sem falar na malandragem de grandes empresas, que constroem hidrelétricas sem estudo de impacto ambiental - na base da liminar ou do suborno, mesmo - e, quando o Ibama estrila, acusam-no de "entrave ao desenvolvimento".

Os jornais dos últimos dias vinham dizendo que a ONGs ambientalistas estão deixando de ver a ministra como uma interlocutora séria. Ou seja, não adianta discutir nada com ela porque, na hora H, o outro lado ganha todas. No fim das contas, ela perde seu único patrimônio, a credibilidade.

Para o governo, claro, ter Marina Silva na esplanada funciona (ou funcionava) como um anteparo. "Como é que podem nos acusar de anti-ambientalistas se temos na equipe uma Marina Silva?" Mais ou menos como Himmler contratar um assessor judeu sem direito a voto para escapar da pecha de anti-semita....

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