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terça-feira, 1 de março de 2005

Patuscada semântica

Patuscada semântica

Na semana passada meu prezado Pedro Doria publicou em no.mínimo um artigo falando sobre os possíveis rumos da igreja católica diante da iminente sucessão de João Paulo II e do descolamento entre ela e parte da sociedade em questões morais. A idéia é que, ao afirmar valores cada vez mais conservadores, a igreja corre o risco de perder a relevância.

Não sei se concordo exatamente. Pelo menos no Brasil, muito do espaço do catolicismo está sendo ocupado por igrejas evangélicas ainda mais retrógradas em aspectos morais. Capazes de reproduzir a Inquisição, mas não de patrocinar uma Capela Sistina. Além disso, o campo conservador alega que a culpa do esvaziamento é justamente dos liberais, que enfatizaram a ação política e social e deixaram de lado as questões espirituais.

De qualquer forma, não é problema meu, pelo menos não diretamente.

Como era de se esperar, PDoria levou uma série de bordoadas na seção de mensagens do site. Recebeu diversos apoios, claro, mas a fúria dos católicos tradicionais chama mais atenção. Uma das reclamações é mais curiosa por critica um trecho em que ele, ao comparar as igrejas católica e anglicana, diz que ambas "adoram Maria". Furibunda, uma das missivistas protestou, dizendo que os católicos não adoram a mãe do chefe, eles a veneram.

Lembrei-me do meu avô, que ficou furioso uma vez porque uma empregada crente dizia que ele adorava ídolos. "Não é adorar, é venerar!" Dizia que tinha estampas da Virgem de Guadalupe, estátuas de São José e outros como tinha retratos de parentes de que gostava muito. Aí eu, espírito-de-porco como sempre, perguntava se ele rezava diante de uma foto da mãe ou se cogitava construir uma basílica para guardar um retrato do avô. Como sempre, ele se irritava e encerrava a conversa, hehehe.

De qualquer forma, a leitora recomenda que o Pedro recorra a um dicionário para entender a clara diferença entre "adorar" e "venerar". Como boa católica (justiça seja feita, boa cristã) ela gosta de pregar o que não pratica. Se tivesse ido ao Aurélio, encontraria o seguinte:

Adorar. Do latim adorare: 1) Render culto a divindade; 2) reverenciar, venerar...

Venerar. Do latim venerare: 1) Tributar grande respeito a, render culto a...

Para tornar ainda mais sem sentindo a alegação de que os sentidos são diversos, o exemplo que Aurélio traz para abonar o último verbo é: "Os pagãos veneravam inúmeros deuses.'

É preciso fazer uma ressalva só quanto ao tempo verbal, pois nós ainda veneramos/adoramos inúmeros deuses.

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