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domingo, 1 de agosto de 2004

Pelo prazer de extorquir

No sábado à noite, voltando de um evento, passei por uma meia dúzia de blitzen da PM, o que motivou uma colega para a qual dei carona a fazer comentários como "dá-lhe extorsão". Fiquei pensando no extremo descrédito da nossa PM e lembrei-me de um episódio que ilustra maravilhosamente isso.

Aconteceu há bem uns 24 ou 23 anos. Na época, minha mãe e minha tia (a que teve um filho prematuro de onze meses) eram sócias numa loja de plantas, a Vivinha, Vasos e Artesanato, lá na Ilha do Governador. Meu pai e meu tio, quando os empregos lhes permitiam, ajudavam, e uma das principais ajudas era buscar plantas na Ceasa na noite de sexta para sábado.

Era na sexta, a partir das 22h, que chegavam na Ceasa (na Avenida Brasil, altura de Irajá) caminhões e mais caminhões trazendo de São Paulo samambaias, avencas, espadas-de-São-Jorge e tantas outras. Eu às vezes ia junto mediante a promessa de uma ceia no saudoso Gordon da Avenida Brasil.

Para fazer esse transporte nós tínhamos uma Kombi que era uma verdadeira ruína, uma infração rolante de qualquer código de trânsito. Uma noite vínhamos eu e meu pai na dita Kombi, completamente entulhados de plantas, quando fomos parados por uma patrulhinha. Os PMs andaram em volta do nosso carro, olharam os 432 possíveis itens multáveis e partiram para o ataque, pedindo grana para não apreender a Kombi e todo o conteúdo.

Nessa hora, meu pai (que é muuuuito pior que eu), escondeu o lado economista em algum canto da mente, aproveitou a bermuda e a barba por fazer e mandou um "ô, seu guarda, a dona da loja não dá nem dinheiro pro café. Eu tive que trazer de casa um pão pro menino. Eu juro que não tenho dinheiro nenhum." Eis que, para meu eterno assombro, um dos guardas olhou, coçou a cabeça e disse: "Então dá pra gente uma plantinha".

Juro, era a extorsão pelo simples prazer de extorquir, por acharem que era impossível parar um carro e não levar nada. Pior é que não levaram. O velho mostrou a nota fiscal, disse que todas plantas estavam anotadas ali, que a dona da loja ia ver se faltasse alguma, ia dizer que ele roubou, ia mandá-lo embora, ele precisava do dinheiro. Só faltou chorar.

Como eu disse, ele é muuuuito pior que eu.

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