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segunda-feira, 16 de maio de 2005

Velha surda americana

Velha surda americana

Esse caso de Guarapari me lembrou os processos contra roqueiros nos anos 80 por conta de suicídios de fãs. O scritp era sempre o mesmo: algum guri com seriíssimos problemas psicológicos metia uma bala nas idéias, e a família, disposta a tudo para livrar a própria cara de qualquer responsabilidade, dizia que algum roqueiro satanista tinha induzido seu bebezinho a se matar. De quebra, processavam o infeliz para arrancar uns milhõezinhos de dólares.

Scorpions e Judas Priest sofreram processos desse tipo, mas o caso mais rumoroso envolveu Ozzy Osbourne. Em outubro de 1984, John McCollun, rapaz de 19 anos, matou-se ouvindo o disco Blizzard of Ozz. A família contratou o advogado Thomas Anderson, que processou o cantor alegando que a faixa "Suicide solution" fizera o rapaz estourar os miolos.

Aí começa a parte divertida. A tradução correta de "Suicide solution" é "Mistura suicida", não "Solução suicida". Ela fala de como o álcool pode acabar com uma pessoa e se refere a Bon Scott, vocalista do AC-DC, que bebeu até desmaiar no carro numa noite de inverno, morrendo de hipotermia. Se o título pode ter duplo sentido, a letra é bem explícita.

Anderson alegou - e apresentou o laudo de um certo Instituto de Pesquisas Bio-Acústicas (IBAR) para provar - que Ozzy incluíra na música uma mensagem subliminar que dizia "Shoot, shoot, get the gun, get the gun" ("Atire, atire, pegue a arma, pegue a arma"). A técnica usada tornaria a pessoa sugestionável à mensagem; no caso, a dar um tiro na cabeça. Por que só o pobre John foi afetado entre os milhões de pessoas que ouviram a canção (inclusive este que vos digita) era uma pergunta que Mr. Anderson preferia evitar.

A acusação, claro, caiu de madura. Ozzy foi absolvido em três processos. A tese de mensagem subliminar não resistiu à contestação no tribunal. Aliás, não sei que fim o tal IBAR levou, mas hoje as únicas referências a ele na Internet estão em sites sobre este caso.

O fim do processo não foi, pelo menos para Anderson, o fim da história. Durante anos ele capitalizou o caso. Numa entrevista, reproduzida no DVD de Ozzy Don't blame me, ele disse que foi a um show do cantor. "Não vi um sorriso", disse - era um show de Ozzy, não de Jerry Lewis, doutor. E insistiu nas mensagens subliminares, agora falando que a canção "Paranoid", gravada por Ozzy ainda como vocalista do Black Sabbath dizia: "I tell you to end you life, I wish I could but it's too late" ("Eu te mando acabar com a sua vida, queria poder mas é tarde demais"). Anderson bem que poderia substituir o saudoso Roni Rios no quadro da Velha Surda, pois a canção diz claramente: "I tell you to enjoy life" (Eu mando aproveitar a vida").

Mas o próprio Ozzy deu-lhe um refresco, contando que durante anos achou que Jimi Hendrix fosse viado. O motivo? Entendia "Excuse me, while I kiss the sky" ("Dá licença, enquanto eu beijo o céu") da canção psicodélica-chapadona "Purple haze", como "Excuse me, wanna kiss this guy" ("Dá licença, quero beijar esse cara"). Na certa foi muita cocaína.

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