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domingo, 18 de julho de 2004

Próxima vítima
 
Ontem, graças à babá, fomos ao cinema pela primeira vez desde que Luísa nasceu. Encaramos Homem-Aranha 2 - Cristina não gostou (muito violento e muito cruel com o pobre Peter Parker) e eu adorei pelos mesmos motivos e muitos outros.
 
Mas o tema aqui não é o amigo e vizinho, mas um trailer que passou antes: Eu, robô, com Will Smith. Sim, o título foi tirado do livro de Isaac Asimov (1920-1992), mas o filme parece ser tão disparatado em relação à obra, que soa quase ofensivo.
 
Asimov era um apaixonado pela ciência. Dividia a ficção científica em duas categorias. A primeira vinha da tradição de Frankenstein, para mim o primeiro livro do gênero, e envolvia os riscos da ciência, a criatura se voltando contra o criador. O segundo, seu gênero, falava das maravilhas da ciência, do progresso.
 
Sua obra (à exceção do Homem Bicentenário) não tinha a dimensão poética de Ray Bradbury, por exemplo, mas era de uma tremenda coerência. Seus contos sobre robôs envolviam basicamente as três Leis da Robótica. A saber:
 
1) Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano se fira;
2) Um robô deve obedecer aos seres humanos, desde que não viole a primeira lei;
3) Um robô deve proteger a própria integridade física, desde que para isso não viole as duas leis anteriores.
 
Com base nessas regras, os contos de Eu, Robô mostravam as máquinas confiáveis, íntegras e preocupadas fundamentalmente com o bem-estar de seus mestres - chegando no final a governá-los não como ditadores, mas como facilitadores. Sempre que algo dava errado, era falha humana.
 
O filme, a julgar pelo trailer e por este bom artigo na Slate, virou Asimov ao avesso. No livro, a protagonista era a Dra. Susan Calvin, uma engenheira que gostava mais robôs que de seres humanos e reconhecia neles uma moral superior. No filme, Smith é um policial que investiga um assassinato e, a despeito das negativas de colegas e da fábrica, atribui o crime a um robô. Mais síndrome de Frankenstein, impossível.
 
Antigamente dizia-se que, na falta de boas idéias, Hollywood as importava de outros meios. Agora, em vez de importar, parecem mais interessados em destruir.

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