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sábado, 18 de janeiro de 2003

Cena tijucana

Vi hoje no supermercado um daqueles sujeitos anônimos que fazem parte da paisagem do bairro. Não faço a menor idéia de quem seja, mas é protagonista de uma das situações mais engraçadas que já testemunhei, acontecida no Metrô há não menos que quinze anos. Antes de mais nada, é preciso explicar que o sujeito é feio, muito feio. Baixinho, com uma cara gorducha, queixo pra dentro, dentuço e com aqule cabelo que, embora liso, parece mais duro que traseiro de estátua - quando o caso aconteceu, o cabelo hoje grisalho era daquele tom louro sujo. Em resumo, uma daquelas criaturas que só exitem para sacanear o controle de qualidade divino.

O vagão do Metrô estava semi-cheio naquela manhã, ou seja, sem lugares vagos para sentar mas com espaço para as pessoas interagirem. O tal sujeito estava em pé quando notou que era observado por uma mulher de aparência bem humilde – se tivesse um tiquinho mais de humildade, iria rastejar em vez de andar. Quando o olhar atento da mulher pareceu incomodar, o cara virou para ela com aquela expressão "que que é?". Ela se sentiu incentivada, abriu um sorriso e disse (num volume que todos no vagão ouviram):

– O senhor é aquele moço da TV, não é? O Meu Garoto?

Pronto, mais de trinta pessoas tiveram que conter o riso a duras penas, pois ela estava certa. O sujeito, de cara limpa, era igual ao comediante Castrinho com a ridícula caracterização de Cascatinha. Sentido o ar de chacota no vagão, o sacaneado nem se deu ao trabalho de responder, apenas fez um não ríspido com a cabeça, que não foi aceito pela "fã".

– Ah, é sim. Eu vejo na TV – disse a mulher, levantando de onde estava sentada para olhar melhor.

Foi demais, e dessa vez o infeliz teve que reagir.

– Eu não sou droga de Meu Garoto nenhum! – respondeu, numa revolta que indicava não ter sido a primeira vez que alguém atentava para a semelhança.

Ferida em sua adoração, a pobre fã sentou e – provocando as gargalhadas que ainda estavam contidas – disse do fundo de sua humildade:

– Esse pessoal de TV é fogo. É só fazer sucesso pra ficar besta.

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