Total de visualizações de página

quinta-feira, 30 de janeiro de 2003

Sejamos justos

Hoje no Globo o diretor Antônio Abujamra fala da nova montagem carioca de “As Bruxas de Salém”, de Arthur Miller – que também rendeu filme homônimo com Daniel Day Lewis. Miller escreveu o texto na década de 50 usando um episódio lúgubre da história colonial americana para criticar a perseguição política do macartismo. Na entrevista, Abujamra enfatiza bastante o aspecto político, mas, como existe a insinuação de que o prefeito César Maia financiou a peça para espicaçar o casal Garotinho, a repórter trouxe à baila o aspecto da intolerância religiosa. Na resposta, curiosamente, Abujamra fala da Igreja Católica.

Vou dar uma de advogado do Diabo (apesar de não acreditar na existência dele): A Igreja Católica – culpada por tantas coisas ruins que nem dá tempo de citar todas – não teve qualquer relação com a perseguição a supostas bruxas em Salém. As comunidades de Massachussets no período eram todas protestantes de linha puritana.

Aliás, aí vai uma curiosidade: apesar de espernearmos horrores em relação à Inquisição Católica, a matança de bruxas em países protestantes continuou muito depois de ter sido abolida (ao menos na prática) em países católicos. Mesmo as legislações de liberdade religiosa vieram antes nos países majoritariamente católicos – com a notável exceção da Constituição norte-americana, de inspiração maçônica.

Um bom exemplo é próprio Brasil. A Igreja Católica perdeu o status de religião oficial com a proclamação da República, em 1889, e a ampla liberdade religiosa (legalizando umbanda, candomblé e kardecismo, por exemplo) veio com a Constituição de 1945 – seis anos antes de a mesma medida ser adotada na Inglaterra.

Nenhum comentário: