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quinta-feira, 9 de janeiro de 2003

Reminiscências

Desde que eu era pequeno (acreditem, já fui pequeno), ouvia meu pai repetir os últimos versos de um poema de Geir Campos que lhe marcara muito. Tempos depois tive a honra e o prazer de ser aluno do autor na UFRJ. Lembrei disso hoje ao pilhar-me fazendo a mesma citação numa conversa. Fica então esta homenagem ao Geir.

Da profissão do poeta
Geir Campos

Operário do canto, me apresento
sem marca ou cicatriz, limpas as mãos,
minha alma limpa, a face descoberta,
aberto o peito, e — expresso documento —
a palavra conforme o pensamento.
Fui chamado a cantar e para tanto
há um mar de som no búzio do meu canto.
Trabalho à noite e sem revezamentos.
Se há mais quem cante, cantaremos juntos;
Sem se tornar com isso menos pura
A voz sobe uma oitava na mistura.
Não canto onde não seja a boca livre,
onde não haja ouvidos limpos e almas
afeitas a escutar sem preconceito.
Para enganar o tempo — ou distrair
criaturas já de si tão mal atentas,
não canto... Canto apenas quando dança,
nos olhos dos que me ouvem, a esperança.

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