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quinta-feira, 7 de agosto de 2003

Decepção

Como sou velho, lembro-me da votação da Emenda Dante de Oliveira, através da qual tentou-se, em 1984, trazer de volta as eleições diretas ao país após vinte anos de ditadura militar. A emenda foi rejeitada porque os votos sim não atingiram a maioria qualificada de dois terços.

Lembro que, além do ódio profundo ao parlamentares do PDS (partido do governo que gerou PFL, PPB e PP) que votaram “não”, senti um desprezo igualmente profundo pelos que se abstiveram ou inventaram desculpas para não comparecer à sessão. A turma do “não” ao menos teve coragem de exercer sua canalhice. Os ausentes e abstencionistas foram canalhas covardes.

Esta semana tive uma forte decepção com o deputado federal Chico Alencar (PT-RJ), em quem votei diversas vezes para deputado estadual e prefeito. Ele e outros parlamentares do partido se abstiveram na votação da Reforma da Previdência. O caso aqui não é o mérito da reforma, mas a postura do parlamentar.

Babá e Luciana Genro botaram os seus na reta e votaram “não” contra a orientação do partido. Ficaram com suas convicções e, no frigir dos ovos, com os compromissos assumidos durante a campanha e a vida política. Certos ou errados, tomaram uma atitude e vão ser julgados por ela pelo partido e pelos eleitores.

Entre os que votaram “sim”, deve haver muitos que o fizeram contra suas convicções, para preservar a unidade e a disciplina partidária. Outros devem achar que a reforma realmente é fundamental para a governabilidade. Como eu disse, não estou discutindo o mérito do projeto. Esses deputados também tomaram uma atitude e vão ser julgados pelo eleitor.

Agora, como o eleitor pode julgar o deputado Chico Alencar e seus colegas? Se ele era contra a reforma, deveria honrar suas convicções, votar “não” e arcar com as conseqüências. Se achava que a decisão do partido deveria ser cumprida, devia votar “sim” e igualmente arcar com isso. Parlamentares não são eleitos para ficar no “nem contra nem a favor, muito pelo contrário”.

Em outubro do ano passado cheguei quase a votar nele, mas acabei ficando com o deputado no qual voto há bem uns 12 anos – mas recomendei-o a indecisos e me sinto profundamente constrangido por isso.

Em “Os Imperdoáveis”, o xerife Little Bill (Gene Hackman) diz a um repórter que até aceita um homem com mau caráter, mas nunca um sem caráter. Cada um decide se o “mau caráter” está no “sim” ou no “não”. Mas os “sem caráter” são que ficaram no meio.

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