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domingo, 21 de março de 2004

Realidade? Que realidade?

Li tempos atrás num veículo paulista uma reportagem sobre seqüestros que criticava a postura do governo local quanto à participação de policiais nas quadrilhas. Segundo o texto, o Rio conseguira melhorar a situação porque, entre outras coisas, ao assumir a chefia da Polícia Civil, o então delegado Hélio Luz declarara: "A DAS (Divisão Anti-Seqüestros) não seqüestra mais". A reportagem comparava o caso ao de um vício, cuja cura começa com a admissão da existência do problema.

E daí, Leo? Daí que eu lembrei disso hoje ao ler as entrevistas dos pais dos integrantes de uma quadrilha de pittboys presa no fim de semana após uma mega-arruaça numa boate de Ipanema. Os arruaceiros, um deles menor, foram presos diante das câmeras por uma tropa da PM após espancarem um rapaz e um policial à paisana que tentara apartar – sem sacar a arma, aliás. O policial, que levou mais de cinqüenta pontos no rosto, descreveu a agressão dos pittboys ao rapaz como um linchamento.

Eis que hoje, nos jornais, os pais dos ditos cujos dizem que são todos rapazes exemplares, que não se envolvem em brigas, que é um absurdo tratá-los como marginais – apesar de terem sido presos em flagrante. Que o advogado diga isso, tudo bem. Ele é pago para dizer que o céu é verde para livrar a cara dos clientes. Mas a insistência dos pais em negar o próprio fracasso na criação dos filhos já tem ares de patologia.

Há uns 25 anos, três rapazes de classe média alta profundamente chapados roubaram o carro do meu tio na porta da casa dos meus avós. Chegaram mesmo a disparar um tiro – não sei se intencionalmente ou por efeito das drogas, não acertaram ninguém. Os três foram presos horas depois. Um deles, depois que o barato passou, brigou com um vizinho e foi dar queixa na 19ª, justo onde meu tio relatava o roubo do carro. Acabou preso e entregou os outros. Dois eram filhos de médicos conceituados; o terceiro, de um alto oficial da Aeronáutica.

Pois o militar foi o único que não tentou comprar meu tio para que este não desse queixa. Os demais tentaram de tudo, dizendo que os filhos eram bons rapazes, botando a culpa em más companhias, em más influências etc. Eles próprios não tinham nenhuma culpa no fato de os filhos virarem ladrões e potenciais assassinos.

Com os pittboys está acontecendo a mesma coisa. Em vez de educação, liberalidade desmedida – para não tolher a personalidade. Em vez de valores, bens. Depois, quando eles saem em bandos (eu ia dizer matilhas, mas mudei de idéia em respeito aos lobos) agredindo os outros, são rapazes exemplares. Então tá, então.

Mudando de assunto, mas ainda no tema fuga da realidade, não canso de me divertir com Paulo Maluf. Mesmo depois de a Suíça ter enviado para o Brasil os documentos sobre as contas que ele manteve lá, o ex-prefeito continua afirmando que jamais teve contas em paraísos fiscais. É um pândego.

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