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segunda-feira, 6 de junho de 2005

Cara a tapa

Cara a tapa

Por mais chocante que seja, tudo indica que a denúncia de Roberto Jefferson está se configurando como verdade, ainda que falte o revólver fumegante na mão de Delúbio Soares, tesoureiro do PT. Primeiro foi o deputado Miro Teixeira (PT-RJ) que confirmou ter recebido a denúncia de Jefferson quando era ministro das Comunicações. Miro disse que, na época, insistiu com Jefferson que a denúncia fosse levada a Lula, mas o deputado amarelou. Por isso, declarou hoje, não acreditava que ele tivesse, de fato, contado ao presidente. Mas deixou no ar que existem denúncias de corrupção ainda piores a caminho.

Eis que agora à noite o ministro Aldo Rabelo, da Coordenação Política, admitiu que Lula realmente recebeu a denúncia, mas sem os detalhes e a reação lacrimosa de que Jefferson falou. Por mais ridículo que pareça, a tônica da fala de Aldo que é as acusações não são contra o governo, mas contra "um partido". O "um partido", no caso é só o partido do presidente e da cúpula do governo. Parece ter feito pós-graduação na Escola George W. Bush de embromação política.

Mais cedo, o senador Aloísio Mercadante (PT-SP), que anda precisando tomar Simancol na veia, subiu à tribuna para garantir que Lula não tinha chorado. "Quem conhece o presidente Lula sabe que ele não é muito de chorar." Pombas, Lula cansou de ser sacaneado por chorar em qualquer solenidade.

A situação é muito triste, especialmente para ex-eleitores de Lula, como eu. Como Delúbio não é burro nem louco, não deve ser fácil provar a existência do mensalão. É improbabilíssimo que tenham sido usadas contas quentes. Por outro lado, vai ser igualmente difícil segurar uma CPI, uma vez que qualquer deputado que fique contra passa a ser suspeito de ter se beneficiado pela boquinha. Em vez de uma comissão para investigar a roubalheira de petebistas nos Correios, teremos uma para arregaçar em público as entranhas do partido do governo até a próxima eleição. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, podia imaginar um cenário desses.

Ah, duas constatações importantes:

1) Roberto Jefferson é um artista. Pivô de denúncias de corrupção nos Correios e no IRB, conseguiu em um dia virar o jogo. A manchete do Globo hoje denunciava que seus apadrinhados manipulavam até R$ 4 bi. Dificilmente ele será réu nas manchetes de amanhã.

2) Pobre JB. A denúncia que sacudiu o país hoje pelas páginas da Folha tinha saído no jornal carioca no ano passado, atribuída então a Miro Teixeira. A absoluta falta de repercussão dá uma boa medida da pouca relevância do outrora sonho de consumo dos estudantes de jornalismo. Uma pena.

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