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sexta-feira, 3 de junho de 2005

Ser otário é tudo de bom

Ser otário é tudo de bom

Eu sou um otário. É serio. Não tenho nem nunca tive o gene da esperteza, o talento para bolar esquemas mirabolantes e a capacidade de "levar vantagem em tudo". Por conta disso, mês após mês tento (e raramente consigo) equilibrar o orçamento, trabalhando e fazendo eventuais frilas.

Claro que isso tem um lado positivo. Por reconhecer-me otário, eu nunca caio em golpes. Sempre que alguém me oferece um "negócio maravilhoso", uma "oportunidade em um milhão", acredito que o sujeito quer tirar vantagem da minha óbvia otarice. Como sei que não sou esperto, sempre amarelo. Talvez algum dia perca um "negócio maravilhoso" de verdade, mas até hoje só consegui escapar de furadas.

Porque esse é o detalhe: o mundo não está divido entre "otários" e "espertos", mas entre "otários", "espertos" e "muito espertos". Quem cai nos golpes dos muito espertos são os espertos, não os otários. Quando um muito esperto convida para participar, por exemplo, de um negócio que envolve desvio de verbas, um otário acha que vai ser descoberto e não entra. Um esperto acha que vai se dar bem e acaba ganhando um processo do Ministério Público.

Lembrei disso, entre outros motivos, ao ler hoje que empresários espertos morreram em R$ 300 milhões na mão de uma quadrilha que oferecia empréstimos internacionais a longuíssimo prazo e juros baixos. Qualquer otário que já precisou levantar uma grana no banco sabe que isso não existe. Mas os espertos acreditavam realmente que, pagando 10% do valor que pretendiam levantar, a grana viria molinha, molinha... Ah, para passar ao largo dos impostos - sonho dourado de todo esperto -, a grana seguia por doleiros em paraísos fiscais.

O esquema era bacana, envolvendo até escritórios de fachada na Quinta Avenida. Uma vez adiantado o dízimo (Por que será que toda instituição fraudulenta trabalha com dízimos?), o tal fundo negava o empréstimo alegando irregularidades na empresa do esperto. Como é mais fácil achar o Bordel das Normalistas do que uma empresa brasileira cem por cento limpa, não faltavam motivos para as negativas. Com as calças na mão, os espertos não tinham sequer como reaver o dinheiro, pois a remessa fora ilegal.

O esquema era tão bom que funcionou por quatro anos.

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