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domingo, 18 de abril de 2004

Westmoreland cor-de-rosa

A Editoria Rio do Globo lançou mão hoje de um recurso de edição primoroso, imortalizado em "Corações e Mentes", documentário de Peter Davis sobre a Guerra do Vietnã. No filme, Davis mostra o enterro de um vietnamita, a viúva em desespero tentando se jogar dentro da sepultura, os filhos em pranto. No fim, apenas o mais novo, com hábito de noviço budista, chorando com uma foto do pai. Um efeito de som estica o choro do menino, e a cena é angustiantemente longa. Quando já não agüentamos mais aquela dor, corta o para o general William Westmoreland, comandante militar americano, dizendo: "os orientais não valorizam a vida como os ocidentais".

A edição de domingo do Globo deu continuidade à muito boa cobertura da guerra que a falta de governo no Rio deixou se abater sobre a Rocinha. Numa matéria, o perfil do psicopata Dudu, que quer dominar a favela; noutra, como a vida de famosos e anônimos foi afetada pelo crime; mais adiante, como a própria economia da cidade sofre com a crise. Eis que, qual o general supracitado, entra a (que todos os Deuses nos perdoem) governadora Rosinha Garotinho dizendo que "a população do Rio se sente mais segura".

Assim como o filme dispensa uma narração para chamar o general de genocida racista, o jornal nem precisou de um editorial para chamar a governadora de cínica. O completo descolamento entre a realidade e o discurso dela e de seu marido, o secretário Garotinho, fala por si. Não que eles precisem se preocupar muito. O lúmpen evangélico que os sustenta não irá abandoná-los, a menos que o pastor mande.

A turma das teorias conspiratórias acha que o casal diminutivo quer mesmo é uma intervenção federal, pois constatou que não tem como melhorar a segurança e prefere que a batata-quente estoure na mão de outro. Pode até ser, mas vão quebrar a cara, pois é com a tristeza de eleitor arrependido que constato não haver em Brasília ninguém com hombridade para meter a espada nesse nosso nó górdio.

Só um detalhe: em janeiro deste ano, no site No Mínimo, meu prezado Xico Vargas cantava a pedra da invasão iminente da Rocinha, dando inclusive o nome dos Dudus, Lulus e outros dissílabos envolvidos. Ou seja, a incompetência da governadora e do secretário não tem sequer a desculpa da ignorância.

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