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domingo, 29 de dezembro de 2002

Triste, porém verdadeiro

Há um ano, quando saiu “O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel”, meu irmão Gil e eu discordamos quanto ao filme. Ele achou que o diretor Peter Jackson deturpou a história e descaracterizou os personagens, apesar de ter sido caninamente fiel em termos de concepção visual. Eu achei que não, que as modificações feitas foram naturais para adaptar a história a um outro veículo e que as alterações nos personagens eram necessárias para dar fluidez à narrativa. No livro já é complicado entender porque Aragorn é um rei sem reino e Gondor um reino sem rei. Explicar isso num filme seria quase impossível.

Eis que ontem fui assistir a “O Senhor dos Anéis – As Duas Torres” e trago para este filme todas as críticas que Gil fez ao primeiro. Visualmente, ele é tão acachapante quanto o anterior. Talvez até mais. Não me lembro de ter visto uma seqüência de batalha tão impressionante quanto o cerco à fortaleza do Abismo de Helm. A caracterização dos rohirin como vikings, sugerida no livro, fica ainda melhor na tela.

E Gollum? Ele é um espetáculo em si. Jackson filmou um ator com uma roupa cheia de sensores e fez a animação por computador sobre os sinais desses sensores. O resultado é que todos os movimentos são naturais, inclusive as expressões faciais. Ele é monstruoso, mas você reconhece que era uma pessoa originalmente. É o personagem melhor adaptado, com sua esquizofrenia transbordando nos monólogos/diálogos e seu desejo doentio pelo anel.

Então por que eu não gostei do filme – ou pelo menos não gostei tanto quanto do primeiro? Porque ele foi praticamente o único personagem que Jackson respeitou. Inventou um mal disfarçado desprezo pelos homens por parte de Elrond – esquecendo que ele é meio-humano. Transformou o Rei Theoden num sujeito vacilante e isolacionista – no livro, seu primeiro impulso ao ser libertado do feitiço de Saruman é entrar em combate logo para poder ir em socorro de Gondor. Pior, inventou brigas malucas entre Aragorn e Legolas e Sam e Frodo que arrepiariam Tolkien. Sem falar nos elfos aparecendo para ajudar na batalha, viagem equivalente a um final feliz em “A Letra Escarlate”.

Há muitas outras coisas que acho terem sido mudadas para pior, mas também não vou contar tudo para quem ainda não viu o filme. Mas, para se ter uma idéia, o roteiro me incomodou tanto que mal estranhei a péssima tradução (seguindo a última edição brasileira), apesar de ainda ter cólicas lendo “Valfenda”, “Scadufax” e “Barbárvore”.

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