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sexta-feira, 14 de março de 2003

Como farsa...

O governo dos EUA patrocinou e armou o sanguinário ditador iraquiano porque ele era um contraponto a um regime hostil aos EUA no Oriente Médio. Tudo bem que ele torturasse, matasse etc. etc., desde que fosse “inimigo dos nossos inimigos”. Só que o ditador se engraçou como Kwait, ameaçou os interesses ocidentais no petróleo e, pecado mortal em se tratando dos EUA, entrou em rota de colisão com Israel.

De um dia para o outro, o ditador iraquiano se tornou uma ameaça à segurança mundial, e Washington passou a pregar a “mudança de regime” em Bagdá. Inglaterra e Israel ficaram do lado dos americanos, enquanto França e Alemanha foram contra. Entre outras medidas, os americanos armaram os curdos no norte do Iraque para que fizessem uma campanha de guerrilha contra o ditador.

Lendo o artigo de Roger Morris hoje no New York Times (o acesso é gratuito com registro) a gente descobre que essa história aconteceu entre 1958 e 1963, e que o ditador se chamava Abdel Karim Kassem, que ficou do lado dos EUA contra o egípcio Nasser e depois virou encarnação do mal.

Morris conta que a CIA tentou matar Kassem com um guardanapo envenenado (!!!) e que, não conseguindo, patrocinou um golpe de estado. O ditador foi preso e fuzilado, e em seu lugar assumiu o regime do partido Baath – entre os militares que participaram ativamente do golpe estava um oficial de 25 anos chamado Saddam Hussein.

Na esteira do golpe, os curdos foram abandonados pela CIA e massacrados, a elite intelectual iraquiana foi sanguinariamente perseguida e as empresas de petróleo americanas entraram solenemente no país, onde ficaram até Saddam invadir o Kwait, em 1990.

Por essas e outras (além do fato de ter nascido e crescido sob uma ditadura patrocinada pelos EUA) eu sinto um nojo profundo quando vejo um americano falar de seu país como o “defensor da liberdade no mundo”.

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