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domingo, 16 de março de 2003

Miopia

A edição deste domingo do Globo tem na Rio uma matéria cujo título reafirma uma velha e altamente daninha distorção: “Repetência é vilã no ensino do Rio”.

Repetência não é vilã de nada, ela é sintoma. Se a repetência está alta, é sinal de que há algum problema grave no ensino – problema esse que deve ser identificado e sanado a fim de que a reprovação e a evasão escolar decorrente caiam para níveis normais.

Uma das alternativas, por exemplo, é o sistema de dependências. No CEFET, o aluno que ficasse reprovado em até duas matérias passava de ano, mas fazia dependência das duas cadeiras. Se passasse na dependência, zerava o placar. Se não, um abraço. Evitaria casos escabrosos como o mostrado pela reportagem do Globo: Alexandre Maia, hoje com 28 anos, parou de estudar na sétima série ao ser reprovado em História por meio ponto. Se tivesse passado para a oitava levando a dependência, talvez não tivesse abandonado a escola.

E eu falo de cadeira. O sistema de dependência do CEFET poupou-me de duas reprovações em Matemática – cadeira sobre a qual meu conhecimento se limita ao fato de ser proparoxítona.

Agora, encarar a repetência como vilã é um convite para soluções porcas e simplistas como a aprovação automática, que em muitos casos produziu alunos de quarta série praticamente analfabetos. É como constatar que o ensino público não é bom o suficiente para que um aluno entre na Uerj e, como “solução”, obrigar a universidade a aceitar alunos que não conseguem acertar metade da prova.

Mas, como disse a Lúcia, eu ando mal-humorado, mesmo.
Aliás, mal-humorado e burro, por conta do erro de ortografia.

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